LEITURA BÍBLICA - JUÍZES

Sobre Quentin Tarantino e a Bíblia. Impressões a partir de uma leitura devocional no livro de Juízes.
Quentin Tarantino -  Fonte: Arquivo Pessoal
A impressão que se tem ao ler o Livro de Juízes é a de que estamos diante de uma obra de Quentin Tarantino. O premiado cineasta[1] é reconhecido pela composição de roteiros (narrativas) não-lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência. [2] Precisamente estas são as similaridades entre o livro de Juízes e a obra ficcional deste ícone do cinema. Com a importante ressalva de que a obra sacra supera a cinematográfica, em todos estes quesitos.
A narrativa de Juízes choca o leitor contemporâneo, por sua construção randômica[3], e por seu realismo brutal. Assassinatos, traições, sacrifícios humanos, e guerras sangrentas, lutas fratricidas, no seio das tribos, a busca desenfreada por poder, riqueza e prazer, são algumas das motivações mais chocantes e vis que os personagens ali descritos, (e por que não dizer por nós ali representados), são capazes de expressar. O realismo como o livro apresenta a natureza humana corrompida pelo pecado, e a percepção de uma espiritualidade popular de ordem sincrética, diversa dos elevados princípios da aliança mosaica, fazem com que as abordagens cosméticas e românticas da espiritualidade bíblica, sejam prontamente repelidas para a vala comum dos discursos vazios e politicamente corretos.
Aprendemos com a leitura deste livro inspirado que Deus se revela nas realidades mais duras, cruéis e difíceis da existência humana, se valendo de personagens contraditórias e até mesmo anti-heroicas para a realização dos atos mais gloriosos, de fidelidade e bondade. Apesar dos recorrentes atos de rebeldia, Deus perseverantemente intervinha na história levantando libertadores, para trazer as vitórias necessárias para o povo e se valendo da disciplina aplicada para preservar a aliança. Creio que este é o caráter chocante da graça de Deus apresentado neste livro. A graça é o favor imerecido de Deus. E o livro de Juízes está aí para demonstrar que este favor é imerecido mesmo!
O livro evoca no leitor contemporâneo, imagens e conceitos de ordem social e política e espiritual. Podemos falar de uma “anomia” nos moldes do conceito do sociólogo Émile Durkheim que define o termo como uma condição em que as normas sociais e morais são confundidas, pouco esclarecidas ou simplesmente ausentes.[4]
Também podemos falar sobre um “contrato social” nos moldes preconizados por um estado Hobesiano, pois em juízes o “homem é o lobo do homem”[5] e a selvageria e a desordem são apresentadas como o contraponto da posterior ordem monárquica, o que se depreende da afirmação recorrente do autor de que “Naqueles dias, não havia rei em Israel”.
Levanta-se portanto o Estado teocrático de Israel, como um ente-necessário para superação do caos social, desordem espiritual e perversão moral da nação. A monarquia judaica, mesmo nos seus dias de menor prestígio, foi superior, ao período relatado no livro de Juízes. Em perspectiva histórico-redentiva a monarquia era uma etapa necessária na revelação progressiva de Deus, cujo o ápice é a própria revelação de Cristo, o messias-rei procedente da tribo de Judá, e linhagem de Davi, rei de Israel e Senhor de todos os povos. Deus soberanamente conduz a história apesar do aparente caos expresso no modo de vida dissoluto do povo.
Se alguém quiser uma recomendação minha sobre uma descrição realista da natureza humana, eu recomendaria a leitura do livro de Juízes. Agora se alguém quiser saber qual diretor eu indicaria para uma adaptação cinematográfica desta obra inspirada, sem dúvida alguma eu indicaria o Tarantino.
Pastor Manoel Delgado Júnior

[1] Vencedor de 5 prêmios Oscar, 5 Globos de Ouro, e 5 prêmios Bafta. Recebeu inúmeras indicações para prêmios cinematográficos.
[3]Juízes 1:1-21:25 Israel luta contra os restantes cananeus [Juízes 1: 1] O anjo do Senhor em Boquim [Juízes 2: 1] Josué morre [Juízes 2: 6] Desobediência e derrota [Juízes 2: 10] Os povos que Israel não expulsou [Juízes 3: 1] O juiz Otniel [Juízes 3: 8] Eude [Juízes 3: 15]Sangar [Juízes 3: 31] Débora [Juízes 4: 1] O cântico de Débora [Juízes 5: 1]Deus chama Gideão [Juízes 6: 1] Gideão vence os midianitas [Juízes 7: 1] Gideão persegue dois reis [Juízes 8: 1] O éfode de Gedeão [Juízes 8: 22]A morte de Gedeão [Juízes 8: 28]Abimeleque é feito rei [Juízes 9: 1] Tola [Juízes 10: 1] Jair [Juízes 10: 3] Jefta [Juízes 10: 6] Efraim contra Jefta [Juízes 12: 1] Ibzã, Elom e Abdom [Juízes 12: 8] O nascimento de Sansão [Juízes 13: 1] O casamento de Sansão [Juízes 14: 1]A vingança de Sansão sobre os filisteus [Juízes 15: 1]Sansão e Dalila [Juízes 16: 1]A morte de Sansão [Juízes 16: 23]Os ídolos do Mica [Juízes 17: 1] A tribo de Dã estabelece-se em Laís [Juízes 18: 1]O levita e a sua concubina [Juízes 19: 1]Os israelitas lutam contra os benjamitas [Juízes 20: 1]Mulheres para os benjamitas [Juízes 21: 1] Estrutura Bíblica Temática. Fonte: Bíblia de Estudo E-Sword
[4] http://colunastortas.com.br/2015/08/06/emile-durkheim-anomia-e-alienacao/ acessado em 12/12/2017

Comentários

  1. Você está corretíssimo, --- "A narrativa de Juízes choca o leitor contemporâneo, por sua construção randômica[3], e por seu realismo brutal. Assassinatos, traições, sacrifícios humanos, e guerras sangrentas, lutas fratricidas, no seio das tribos, a busca desenfreada por poder, riqueza e prazer, são algumas das motivações mais chocantes e vis que os personagens ali descritos, (e por que não dizer por nós ali representados), são capazes de expressar. O realismo como o livro apresenta a natureza humana corrompida pelo pecado, e a percepção de uma espiritualidade popular de ordem sincrética, diversa dos elevados princípios da aliança mosaica, fazem com que as abordagens cosméticas e românticas da espiritualidade bíblica, sejam prontamente repelidas para a vala comum dos discursos vazios e politicamente corretos". --- mas você só esqueceu de uma coisa: falou da maldade humana e tirou Deus da reta.

    Aí fica fácil fácil.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

ESBOÇO - ISAÍAS 42.1-4. CANA QUEBRADA E PAVIO FUMEGANTE.

ESBOÇO - ICABODE - PORQUE A GLÓRIA DE DEUS SE FOI.

ESBOÇO - MENSAGEM MATEUS 7.7-11. O VALOR E O PROPÓSITO DA ORAÇÃO.