REFLEXÃO - SERÁ QUE O PASTORADO ME TORNA UM TEÓLOGO MELHOR?

No exercício do pastorado vemos muitas vezes o nosso tempo se esvair. São visitas regulares, aconselhamentos constantes, encontros em situações inesperadas, e uma rotina litúrgica interminável que na perspectiva da erudição e do academicismo puro pode parecer uma completa perda de tempo. Teólogos de primeira grandeza como Agostinho de Hipona e João Calvino reconheceram esta dificuldade.
Agostinho disse que sua extensa obra só não foi maior devido aos seus constantes trabalhos como bispo. Calvino nutria um desejo profundo de dedicação exclusiva à produção de literatura, e se não fosse o famoso apelo de Farel, talvez esta fosse a sua opção de vida.
Deve-se reconhecer que nem todos os eruditos bíblicos e teólogos se dedicarão ao pastorado, existe um lugar devido e de honra para os mestres e doutores no meio da Igreja. Porém, de minha parte, estou igualmente convencido que o exercício do pastorado pode nos tornar teólogos melhores e apresento algumas razões.
Em primeiro lugar, diria que ser pastor local me livra da aridez teológica e das abstrações inúteis. Se não estivesse pastoreando, a minha linguagem seria cada vez mais técnica e talvez, cada vez mais incompreensível. O pastorado preserva a minha linguagem piedosa, sadia e acessível e me livra de um academicismo frio e distante.
Em segundo lugar, o pastorado me preserva da adoção de ideias sem aplicação prática. Se não estivesse pastoreando, provavelmente estaria preocupado com a quantidade anjos que cabem na cabeça de um alfinete... Como teólogos, somos propensos as especulações e teorias das mais diversas, mas no exercício diário do pastorado as pessoas logo nos confrontam perguntando: "-Mas pastor como posso usar isto que o Senhor disse?" Pronto, sempre que algo assim acontece desço logo da minha catedral de marfim intelectual e dirijo os meus pensamentos e ensinos para o que realmente é proveitoso para o corpo, e útil para a edificação da Igreja.
Terceiro, o pastorado me ajuda a manter empatia com as pessoas, e isto impacta minha produção teológica. Temos visto o recente fenômeno dos "teólogos de Facebook". Um grupo de pessoas que sem a prática da piedade cristã, vida devocional e exercício do cuidado pastoral tem se valido do parcial conhecimento teológico adquirido na internet, para julgarem, rotularem, e de maneira muito descortês, divergirem de opiniões contrárias às suas classificando-as como heréticas, muitas vezes, sem a devida compreensão dos conceitos e termos envolvidos. Desrespeitando cristãos de longa caminhada ministerial e compromisso comprovado com a Igreja de Cristo. Creio que falta justamente a estes pseudo-teólogos a evidência do amor e a prática das virtudes cristãs, pois até para divergirmos devemos exalar o "bom perfume de Cristo."
E por último, diria que é no exercício do pastorado que podemos formular as grandes questões e problemas que demandam uma produção teológica. Se Calvino e Agostinho não tivessem pastoreado muito provavelmente eles não seriam os grandes teólogos que foram.
O pastorado é um exercício de amor a Cristo e uma resposta de fé aos desafios de nosso tempo, em favor das pessoas, para a glória de Deus. Produzir teologia em contexto ministerial é o nobre exercício de apresentarmos, a partir da nossa prática cristã, vida comunitária, e labor teológico todo o conselho de Deus.

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