ESBOÇO - A IDENTIDADE DO POVO DE DEUS. ISAÍAS 40-55.
Identidade do povo de Deus.
Um estudo esquemático dos capítulos 40 a
55 de Isaías.
Manoel Delgado Jr.
Quando mudamos do capítulo trinta e nove para o quarenta
do livro de Isaías, somos confrontados com uma mudança drástica na
temporalidade da narrativa. Se até o capítulo trinta e nove existe o alerta de
uma destruição iminente, seguida por cativeiro e exílio. A partir do capítulo quarenta[1]
temos o início de uma unidade de profecia que já pressupõe o cativeiro
babilônico como “um fato ocorrido”[2], e
que se preocupa em apresentar os agentes de Deus para a libertação do opressor.
Assim dos capítulos quarenta a cinqüenta e cinco, temos a
revelação profética acerca da identidade
do povo da Aliança, que chamado por Deus para ocupar a terra da promessa, uma vez
lá estabelecido se corrompe por meio da idolatria[3] e
é disciplinado por Deus, por meio do cativeiro babilônico e perdoado e
restaurado por Deus geograficamente por meio de Ciro, e redentivamente por meio
do Messias, o Servo do Senhor.
A partir desta perspectiva apresentaremos a seguir cinco
características do povo de Deus a partir de Isaías 40-55:
1-Um povo chamado;
40: 8-9/ 43:20-21/44:1-2
A
primeira característica que encontramos no texto reside justamente no fato de
que o Senhor por meio do profeta nos lembra que o povo de Deus é um povo
chamado.
Chamado quando era frágil
A expressão verme de Jacó aponta para esta realidade de
fragilidade do povo, o propósito é contrapor a grandeza e força do Deus da
aliança ao caráter finito e transitório do povo. O propósito não é diminuir o
povo de Deus, mas sim o de apresentar que as verdadeiras forças não provem do
povo ou de qualquer outra força, seja política, ou da criação ao contrário,
esta fragilidade visava realçar justamente que verdadeira força e grandeza do
povo residiam justamente no Deus que os vocacionava e identificava.
Quando era pouco
numeroso:
"Escutem-me,
vocês que buscam a retidão e procuram pelo Senhor: Olhem para a rocha da qual
foram cortados e para a pedreira de onde foram cavados; olhem para Abraão, seu
pai, e para Sara, que lhes deu à luz. Quando eu o chamei, ele era apenas um, e
eu o abençoei e o tornei muitos.[4]
Por esta outra passagem percebemos que
Deus por meio do profeta desafia o povo a revisitar o seu passado a buscar nas
suas origens a sua identidade lembrar o povo acerca do chamado de Abraão que
era apenas um, e que agora eles são numerosos.
2-Um povo disciplinado e perdoado;
40:1-2/51:17-23/
A idolatria foi à causa do cativeiro, mas o
Senhor após exercer sua disciplina decidiu perdoar a nação.
Consolem, consolem
o meu povo, diz o Deus de vocês. Encorajem
a Jerusalém e anunciem que ela já cumpriu o trabalho que lhe foi imposto, pagou
por sua iniqüidade, e recebeu da mão do Senhor em dobro por todos os seus
pecados. [5]
Esta disciplina foi temporária, não durou
para sempre, foi didática, foi para que o povo reconhecesse o senhorio absoluto
de Javé e o caráter totalmente efêmero da idolatria, uma vez que todos os
ídolos são inúteis para livrar no dia da calamidade. Ela não foi extrema, pois
o Senhor preservou o seu povo com mão providente durante esta disciplina.
O texto de Isaías apresenta o caráter
absoluto e santo de Deus, assim como sua onipotência e eternidade e o contrapõe
ao caráter efêmero e ineficaz dos ídolos.
3- Um povo restaurado por Javé - 44:21-23/49:8-26
Outra
idéia que perpassa o texto é a da restauração do povo. Existem pelo menos em três sentidos que ficam
evidentes desta restauração:
Será restaurado como
nação - O povo tornará a
constituir uma nação, geograficamente eles retornarão para a terra da promessa.
Terão a restauração do reino davídico. O tempo de exílio e do cativeiro
passará.
Será restaurado como
povo adorador – O templo reconstruído, uma
ação evidente de Javé e a percepção dolorosa da inutilidade dos ídolos,
conduziriam necessariamente o povo de volta à adoração.
Será restaurado vendo
a vingança contra os seus inimigos –
Outro aspecto que percebemos é que os agentes da disciplina do povo de Deus,
também terão o seu castigo. Quando o povo de Deus for restaurado verá a vingança
de Javé contra os inimigos do seu povo.
4-Um povo messiânico - 42:1-17/49:1-7/ 52:13-53:12
De acordo com esta passagem vemos que o povo,
participante de todos estes acontecimentos descritos na profecia, encontram a
sua efetivação e significado na obra do Messias, identificado nestas passagens
pela expressão“servo” embora, não se
refira a Ciro o libertador:
42.1-9
Isa 42:2Eis aqui o meu servo,
a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre
ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios.
Isa 42:2 Não clamará, nem
gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça.
Isa 42:3 Não esmagará a cana
quebrada, nem apagará a torcida que fumega; em verdade, promulgará o direito.
Isa 42:4 Não desanimará, nem
se quebrará até que ponha na terra o direito; e as terras do mar aguardarão a
sua doutrina.
Isa 42:5 Assim diz Deus, o
SENHOR, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz;
que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que andam nela.
Isa 42:6 Eu, o SENHOR, te
chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da
aliança com o povo e luz para os gentios;
Isa 42:7 para abrires os
olhos aos cegos, para tirares da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em
trevas.
Isa 42:8 Eu sou o SENHOR,
este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha
honra, às imagens de escultura.
Isa 42:9 Eis que as primeiras
predições já se cumpriram, e novas coisas eu vos anuncio; e, antes que sucedam,
eu vo-las farei ouvir.
Estes versículos, algumas vezes chamados
de “o cântico do Servo”, falam sobre o Servo-Messías, não do servo Ciro (como
no capítulo 41). Tanto a nação de Israel como o Messías recebem a designação de servos. Israel, como
servo de Deus, tinha que levar ao mundo o conhecimento de Deus. O Messías,
Jesus, cumpriria esta tarefa e manifestaria ao mundo a auto-revelação de Deus. [6]
5-Um povo com um destino grandioso -54-55
O desfecho culmina com a apresentação da dignidade do
povo de Deus, que não é digno, poderoso ou grandioso por si mesmo, mas sim,
devido aquele que merece exclusivamente, a honra e a glória: O Deus da aliança.
Umas séries de figuras visam expressar a restauração e a
consumação das promessas de Deus ao seu povo. E no último capítulo desta seção,
existe um desafio para o povo buscar ao Senhor e apropriar-se de todas as suas
promessas para sempre.
[1]
Sendo este tema de acalorada discussão na crítica bíblica ver Archer, Merece
confiança o Antigo Testamento pág. Editora Vida Nova. Ver também Groningen,
Gerhard Van, Revelação Messiânica no AT pags. 489-493, Editora Cultura Cristâ.
[2]Tal
abordagem de acontecimentos futuros é comum em Isaías.
[3] A
semelhança dos que ali viviam e contrariando assim as advertências divinas.
[4]
Isaías 51:1-2
[5]
Isaías 40:1-2
[6]
Fonte
Comentário Diário Vivir persquisado em E-SWORD bíblia digital.
Editora Vida Nova. Groningen, Gerhard Van, Revelação Messiânica no AT pags. 489-493, Editora Cultura Cristâ.
ResponderExcluirOu,
Revelação Messiânica no Antigo Testamento de Gerard van Groningen.
Lembro-me bem dele. Herança holandesa, sete filhos, inteligente. Seu primeiro livro em uma das aulas no RTS foi IN GOD WE TRUST do ultra liberal Walter Bruggemann. um alemão-americano de formação luterana com especialização na Alemanha.
Van Groningen era meio revolucionário naqueles anos de 1972. Depois, por razões que desconheço, vibrante e desafiador, caiu para o outro lado, de conservadorismo sufocante. Kistemaker, eu até entendo, era um conservador de quatro costados. Mas Groningen?
Revelação Messiânica no Antigo Testamento representa a mais completa análise conservadora no mercado editorial brasileiro . Van Groningen traça a expectativa messiânica progressivamente revelada nas Escrituras. Ele primeiro introduz o conceito messiânico, definindo termos e origens.
O livro explora aspectos filológicos, históricos e teológicos do messianismo. O resultado: o conceito messiânico se refere a uma pessoa real-sacerdotal-profética, Cristo.
Groningen, a meu juízo, é salvo por admitir uma compreensão correta do messianismo no Antigo Testamento que requer uma abordagem hermenêutica equilibrada: exegese dos textos relevantes e seu contexto histórico para a interpretação de profecia e organização de suas verdades teológicas. Fora disso, é fazer injustiça ao Velho Testamento.
Van Groningen incluiu uma extensa bibliografia de livros e artigos para aqueles que desejam continuar com os estudos.
Um índice Escrituras ajuda a localizar idéias exegéticas do autor sobre diversas passagens. Outro índice de pessoas conclui o trabalho.
O livro em Inglês é super salgado, uns US$ 50.
A temática hoje, porém, ficou velha.