ARTIGO - O QUARTO A RENUNCIAR: AS POLÊMICAS ENVOLVENDO A RENUNCIA DOS PAPAS.
Por
Manoel Delgado Jr.
Bento XVI, com a sua decisão comunicada no último dia onze, acabou ingressando num seleto grupo, o dos papas que renunciaram ao pontificado da Igreja Católico Romana. As próprias circunstâncias envolvendo a renuncia dos mesmos, já demonstram as características ambíguas desta instituição, e servem de fonte para a reflexão acerca de suas reinvidicações teológicas.
Bento XVI, com a sua decisão comunicada no último dia onze, acabou ingressando num seleto grupo, o dos papas que renunciaram ao pontificado da Igreja Católico Romana. As próprias circunstâncias envolvendo a renuncia dos mesmos, já demonstram as características ambíguas desta instituição, e servem de fonte para a reflexão acerca de suas reinvidicações teológicas.
1 - Bento
IX (1033-1046) Teofilato de Túsculo, sobrinho de seus dois
antecessores Bento VIII e João XIX assumiu com apenas dezoito anos,
segundo os seus biógrafos foi um dos papas mais indignos daquela
épocai
devido a sua devassidão e vícios. Era da família dos Condes de
Túsculo, e como Papa não passou de um braço do Imperador Conrado
II da Alemanha. Em 1044 numa das suas sucessivas fugas de Roma, foi
escolhido um Antipapa Silvestre III, contudo Bento IX conseguiu
expulsar o mesmo e se restabelecer. Em 1045 vendeu a sua dignidade
papal por 1000 liras em prata a João Graciano que depois da
negociação passou a se denominar Gregório VI. Assim neste período
governaram três papas
sendo que os três foram destituídos em 1046.
2 - Celestino
V – (1294) Pietro
Del Murrone, homem piedoso para o padrão de sua época, vivia como
eremita, tendo fundado uma comunidade, que posteriormente foi
incorporada a ordem dos Beneditinos. Aceitou de maneira relutante o
cargo havendo renunciado apenas cinco meses depois.ii
Assumiu o papado em Perúgia no dia cinco de julho de 1294 e
renunciou em dezembro do mesmo ano. Foi sucedido por seu conselheiro
Bento Gaetani, que seria conhecido como Bonifácio VIII, o mesmo após
assumir o pontificado prendeu Celestino V
até o ano de sua morte em 1296.
3 - Gregório
XII – (1406-1415) Angelo
Correr, de Venezaiii
foi eleito após a morte de Inocêncio VII, se tornando Gregório
XII. Tal decisão se deu mesmo após tentativas do Antipapa
Bento XIII unificar o cisma católico. Houve conversas entre ambos
sobre a possibilidade de renuncia mútua, porém tais tratativas não
lograram êxito. Diante disto os cardeais romanos abandonam Gregório
e organizam um concílio em Pisa para decidir a questão. Bento XIII
e Gregório XII foram intimados, mas não compareceram e no referido
concílio elegeu-se Alexandre V como papa e decidiu-se pela deposição
dos dois papas ausentes. Como os mesmos não aceitaram a deposição
passou a igreja romana a ser governada simultaneamente por três
papas! Somente em 1415 no concílio de
Constança Gregório XII renuncia ao seu pontificado passando então
a exercer as funções de Cardeal-Bispo do Porto.
4 – Bento
XVI – (2005 – 2013) Joseph Ratzinger. Nascido na Baviera. Foi um dos peritos
do Concílio Vaticano IIiv
foi professor de Teologia em Tübingen, e em diversas outras
instituições de ensino teológico. Em 1977 foi eleito Arcebispo e
no ano seguinte Cardeal, foi nomeado pelo Papa João Paulo II, em
1981, Prefeito da “Congregação para a Doutrina da Fé do
Vaticano”, Cargo que exerceu até abril de 2005 quando foi eleito
como Papa adotando o título de Bento XVI.v
Neste período ocorreram combates a
perspectivas teológicas liberais e progressistas como, por exemplo,
contra a teologia da Libertação na América Latina e as teologias
contextuais diversas, o apoio ao movimento carismático católico, a
reincorporação de grupos ultramontanistas ao seio da Igreja
Católica, o investimento em atividades para a juventude,
como a Jornada Mundial, evento que congrega jovens católicos do
mundo todo, e que neste ano será sediada cidade do Rio de Janeiro.
Considerando a raridade das vezes em que ocorreram renuncias de Papas
e as condições controversas envolvendo as mesmas, pode-se inferir
que, sua opção pela renuncia longe de ser uma opção meramente
administrativa, deve-se as pressões externas e internas
que somadas com as debilidades de uma idade avançada o levaram a esta decisão.
A partir deste breve testemunho histórico, verificamos que as reivindicações de sucessão apostólica, de infalibilidade e do primado romano, ficam seriamente comprometidas em face
dos dados concretos da história, lembrando-nos que o período dos apóstolos cessou.
i
WOLLPERT-FICHER, Rudolf, Os papas de Pedro a João Paulo II, Ed.
Vozes, 5ª edição. Pág. 69-70
ii
Op. Cit. Pág. 103-104
iii
Op. Cit. Pág. 115
iv
GONZALEZ,
Justo, Dicionário
Ilustrado dos Interpretes da Fé,
pág. 548-549
v
GONZALEZ,
Justo, Dicionário
Ilustrado dos Interpretes da Fé,
pág. 548-549
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