Os passos exegéticos na perspectiva indutiva e monográfica.
Introdução
De acordo com Antonia Leonora Van Deer Meer[1], existem três passos principais para o desenvolvimento do Estudo Bíblico Indutivo (EBI): observação, interpretação e aplicação. No EBI, procura-se entender o que o autor quis comunicar, evitando impor sentimentos ou opiniões sobre o texto. Esses três passos básicos tornam o estudo dinâmico e suas aplicações práticas.
Douglas Stuart, em seu Manual de Exegese do Antigo Testamento, apresenta 12 etapas para uma exegese completa, visando um trabalho monográfico: 1) Texto, 2) Tradução, 3) Contexto Histórico, 4) Contexto Literário, 5) Forma, 6) Estrutura, 7) Dados Gramaticais, 8) Dados Lexicais, 9) Contexto Bíblico, 10) Teologia, 11) Literatura Secundária, 12) Aplicação.[2]
Apesar das diferenças, esses métodos se complementam. A seguir, apresentamos um esboço mostrando a correspondência entre os passos do método indutivo e do método exegético monográfico.
A'. Definição do Texto
O método indutivo pressupõe o texto final acabado, não contemplando os passos 1 e 2 do método exegético monográfico.
1. Texto
1.1 Confirme os limites da passagem (perícope);
1.2 Compare as versões;
1.3 Reconstrua o texto, fazendo observações;
1.4 Coloque a poesia em forma versificada.
2. Tradução
2.1 Prepare uma tradução provisória do texto reconstruído;
2.2 Verifique a correspondência entre o texto e a tradução;
2.3 Revise a tradução à medida que continuar o trabalho;
2.4 Faça uma tradução final.
B'. Levantamento do Contexto
O método indutivo não contempla essa parte explicitamente, embora pressuponha seu conhecimento.[3]
3. Contexto Histórico
3.1 Pesquise o pano de fundo histórico;
3.2 Pesquise o ambiente social;
3.3 Pesquise o cenário histórico;
3.4 Pesquise os aspectos geográficos;
3.5 Determine a época da passagem.
9. Contexto Bíblico (próximo e remoto)
9.1 Analise o uso da passagem em outras partes da Bíblia;
9.2 Analise a relação entre a passagem e o restante da Bíblia;
9.3 Analise a importância da passagem na compreensão geral da Bíblia.[4]
A. Observação (descobrir os fatos dentro do texto)
4. Contexto Literário
4.1 Examine a função literária;
4.2 Examine a localização;
4.3 Analise os detalhes;
4.4 Analise a autoria.
5. Forma (Gênero Literário)
5.1 Identifique o tipo literário geral (gênero);
5.2 Identifique o tipo literário específico (forma);
5.3 Procure subcategorias;
5.4 Sugira um contexto vivencial;
5.5 Analise a integridade da forma;
5.6 Esteja atento a formas parciais fragmentadas.
6. Estrutura (Diagramação)
6.1 Faça um esboço da passagem;
6.2 Procure padrões de pensamento;
6.3 Organize esses padrões em ordem decrescente de tamanho;
6.4 Avalie a intencionalidade dos padrões menores;
6.5 Se a passagem for poética, analise-a como tal.
7. Dados Gramaticais (Análise Gramatical)
7.1 Analise os dados gramaticais relevantes;
7.2 Analise a ortografia e a morfologia.
8. Dados Lexicais (Palavras-chave)
8.1 Explique todas as palavras e conceitos que não forem óbvios;
8.2 Concentre a atenção em conceitos, palavras ou expressões-chave;
8.3 Faça “estudos de vocábulos”;
8.4 Identifique características semânticas especiais (ironia, hendíades, arcaísmos propositais).
B. Interpretação (o significado destes fatos)
B.1 As implicações dos passos anteriores;
B.2 A construção do sentido original do texto. O sentido original é o significado da passagem à luz da intenção do autor original aplicada ao público original no seu contexto vivencial.
10. Teologia do Texto
10.1 Localize a passagem teologicamente;
10.2 Identifique os tópicos específicos levantados e resolvidos pela passagem;
10.3 Analise a contribuição teológica da passagem.
11. Literatura Secundária
11.1 Investigue o que outras pessoas disseram sobre a passagem;
11.2 Compare e faça ajustes;
11.3 Aplique as descobertas ao seu trabalho.
C. Aplicação (agir a partir das conclusões alcançadas)
Ambas as metodologias propõem a aplicação em termos similares.
12. Aplicação
12.1 Analise os assuntos que dizem respeito à vida;
12.2 Esclareça a natureza da aplicação (informa ou orienta?);
12.3 Esclareça as possíveis áreas de aplicação (fé ou ação);
12.4 Identifique os ouvintes da aplicação;
12.5 Determine as categorias de aplicação (pessoal, coletiva, social, econômica, religiosa, financeira);
12.6 Determine a época a ser focalizada na aplicação;
12.7 Esclareça os limites da aplicação (o que não pode ser feito).
Considerações Finais
- Pode-se afirmar que o método indutivo é eficiente quando o texto e o contexto são previamente definidos, sendo esse o seu limite metodológico.
- Os dois métodos distinguem o sentido do texto (interpretação) das suas múltiplas aplicações.
- Em termos simplificados, podemos falar de cinco passos para um método exegético indutivo: 1) Texto; 2) Contexto; 3) Observação; 4) Interpretação; 5) Aplicação.
[1] Van Deer Meer, Antonia Leonora. Estudo Bíblico Indutivo. ABU Editora. Este método foi desenvolvido para estudos em Pequenos Grupos tanto evangelísticos como de crescimento no contexto do evangelismo universitário, tendo migrado para outros contextos como, por exemplo, as escolas dominicais, seminários teológicos, movimentos de células ou grupos familiares.
[2] Stuart, Douglas & Fee, Gordon D. Manual de Exegese da Bíblia – Antigo e Novo Testamento. Ed. Vida Nova, 2008. Gordon Fee apresenta em seu manual alguns passos específicos dependendo do Gênero Literário do NT.
[3] No manual de EBI, Antonia Leonora Van Deer Meer menciona estes itens em seu método, contudo, eles não estão evidentes no texto em si, sendo necessário consulta a outras fontes ou perícopes da Escritura.
[4] Este item poderia ser colocado no passo da interpretação, mas para não o retirarmos do seu contexto, o mantivemos aqui.
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