REFLEXÃO - Teologia Pastoral : Uma linguagem para a práxis e uma práxis que renova a linguagem teológica.
Por
Manoel Delgado Jr.
A
teologia pastoral está ligada ao cuidado e este cuidado envolve o encontro. De
acordo com Daniel J. Louw[1],
um teólogo pastoral sul-africano o encontro é
um evento de conhecimento, um processo de interpretação, caracterizado por
dualidades; encontro implica em experiência, reciprocidade e interação;
encontro envolve o influencia, transformação e mudança.
William Clebsch e Charles Jaekle[2],
por sua vez, definem o cuidado pastoral como: Atos de ajuda realizados por
representantes cristãos, voltados para curar, suster, guiar e reconciliar as
pessoas em dificuldades, cujos problemas emergem no contexto de preocupações e
significados últimos”.
A teologia
pastoral é uma teologia prática e como Julio Zabatiero[3]
afirma: Teologia prática nasce da prática
teológica. E esta indica, todo e qualquer serviço que, como líderes do povo de
Deus, realizamos para a Glória de Deus, a expansão do Reino, o crescimento da
Igreja e a edificação do corpo de Cristo.
O primeiro aspecto desta relação da teologia
pastoral e a teologia em si,
consiste no fato de que a teologia pastoral retira a sua motivação da percepção
teológica. Poderíamos dizer que a
teologia pastoral é uma teologia da compaixão movida pela paixão. Isto
significa que este encontro com o próximo, e este cuidado que envolve a prática
pastoral é motivado, no contexto cristão, pela realidade teológica da compaixão,
e isto se deve a percepção acerca da identidade de Deus como revelado em
Cristo Jesus.
Não é sem razão que o professor de Antigo Testamento Gerhard von
Rad[4]
distinguiu o Deus dos Judeus como aquele que se envolve, do Deus
apático dos gregos, e segundo Satler-Rosa Jürgen Moltmann teria levado o modelo de von Rad, inclusive sua
compreensão da releitura contínua de geração, a geração dos feitos e das
promessas de Deus, para a teologia sistemática.
O segundo aspecto desta relação, que
considero fundamental consiste na realidade de que a teologia pastoral fundamenta
sua linguagem a partir da teologia geral, aplicando-a a realidades específicas
de vida, no contexto pessoal e comunitário. Ao passo em que ela mesma enriquece
esta linguagem teológica e a aprofunda com a percepção contextual das
necessidades humanas, o que certamente oxigena e fomenta novas implicações da
verdade teológica.
É o que Sathler Rosa apresenta como grande desafio da teologia pastoral: que agentes pastorais reflitam sobre como
relacionar a mensagem de Jesus Cristo que “ontem e hoje, é o mesmo e o será
para sempre” (Hebreus 13.8) com as mudanças culturais e sua influência sobre a
vida e fé das pessoas.[5]
Sobre a importância de
formularmos esta linguagem da teologia pastoral ele diz ainda:[6][...]é
preciso encontrar uma
linguagem que estabeleça uma relação de confiança, “artigo em baixa” em
sociedades de relacionamentos rasos, especialmente nas formas de cuidado pastoral
interpessoal (visitação, acompanhamento em situações de crise severa,
atendimento em hospitais, entre outras). Não se trata apenas de buscar palavras
da moda.
Esta
linguagem não é apenas de palavras, mas demonstrações concretas de cuidado.
Este cuidado visa responder não somente as questões do ser, mas as questões
concretas do viver, que muitas vezes em contextos de profunda necessidade, referem-se
ao sobreviver!
Não
se resume apenas em cuidar das questões do corpo, mas também no cuidado das
questões mais prementes da interioridade, dos dilemas existenciais mais
profundos da Psichê. Em resumo, o
cuidado integral do ser humano, na perspectiva do evangelho, movido pelo
Espírito de Cristo.
E
para finalizar apresentaremos a perspectiva de Sathler-Rosa[7] : [...] Talvez o termo que expresse
melhor essa nova linguagem, não necessariamente enunciado, mas, expresso em
atitude de preocupação autêntica e respeito, seja solidariedade. Estudos de
tendências indicam que a religião do futuro, isto é, daquelas comprometidas com
o cuidar da vida e motivadas por sua missão reconciliadora, será a da
solidariedade. O fundamento maior desse amor solidário é a Presença de Jesus
conosco e em nossa história.
*O presente trabalho foi fruto de uma atividade desenvolvida a partir das leituras realizadas durante o curso de Teologia Pastoral na EaD da FTML-SP.
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