LEITURA - A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ E A AÇÃO HISTÓRICA. MAURÍCIO ABDALLA GUERRIERI
O artigo do professor Maurício
Abdalla Guerrieri[1],
para a revista “Vida Pastoral”, publicação voltada para sacerdotes e agentes de
pastoral católica, tem por objetivo apresentar o tema da espiritualidade no
contexto da igreja brasileira a partir do fazer teológico e da práxis cristã,
visando à retomada do paradigma bíblico de espiritualidade, paradigma que
estaria associado ao pensamento concreto hebraico e a partir de uma abordagem
integral do ser humano.
O autor inicia sua apresentação do
tema demonstrando o paradoxo da espiritualidade brasileira, que seria
constatado num primeiro momento pelo positivo aumento de publicações e pelo
interesse crescente dado ao tema no contexto brasileiro, mas por outro lado, e
de maneira negativa, pelas distorções que estas expressões de espiritualidade
apresentaram, em conseqüência das categorias de pensamento em que elas teriam
sido constituídas, sob a influencia da cosmovisão dualista ocidental moderna.
Este dualismo, de origem grega platônica
e com desdobramentos modernos de feições cartesianas seria o responsável por
tal distorção, uma vez que, ele seria o responsável pela fragmentação e
separação dos conceitos (pensamento abstrato) e de oposições artificiais de
idéias, que são integradas no complexo humano. Tal dualismo seria percebido nos
aparentes contrastes das expressões “teoria e prática”, “razão e experiência”,
“oração e ação”, “carinho e severidade”, “corpo e alma”, “espírito e matéria” entre
outros... A conseqüência deste pensamento seria a supervalorização do espiritual,
visto em termos imateriais e o conseqüente desprezo pelo material, o mundo
concreto da vida e dos homens.
O pensamento hebraico por sua vez,
seria o que melhor representa a cosmovisão dos autores canônicos e que por sua
vez, representa a perspectiva fundante da espiritualidade cristã. Tal abordagem
para o autor pode ser exemplificada no próprio termo “espírito” que na
linguagem hebraica descreve o ser integral e não apenas uma parte constituinte
do homem. Assim, uma espiritualidade verdadeiramente cristã seria uma
espiritualidade complexa, envolvendo todos os aspectos da vida humana.
E para expressar estas duas
perspectivas o autor apresenta duas imagens com o objetivo de melhor ilustrar
esta perspectiva, a metáfora do estilingue e a alegoria do barco a vela.
Na metáfora do estilingue a
espiritualidade estaria associada à cosmovisão dualista, sendo uma distorção. Pois
nesta abordagem o espírito é algo distinto do corpo e sem relação com a vida
material, ou no máximo uma força impulsionadora, mas desconectado do objeto
impulsionado.
Na alegoria do barco a vela, a
espiritualidade verdadeiramente cristã, é comparável a um barco a vela singrando
o oceano em direção a um novo mundo. Esta alegoria proposta pelo autor, possui
forte apelo identitário para o latino, tendo em vista as grandes navegações ibéricas,
e a nossa história colonial. Nesta alegoria, cada elemento é importante e
corresponde a um aspecto da espiritualidade da ação sendo que:
1. O vento e a vela – Apontam para o Espírito (Pneuma)
que é o impulsionador que está presente, atuando de maneira misteriosa,
(incontrolável, imprevisível, incompreensível muitas vezes) e que requer
daquele que com ele se relaciona: abertura
“hastear as velas”, e mística o
reconhecimento do mysteriom.
2. O mar – Está representando o mundo atual,
que é o ponto de travessia e o local da ação transformadora, local turbulento
de águas revoltas, mas também o local onde o sopro do Espírito se faz presente.
Onde a igreja atua contra as causas do mal e não apenas contra os seus efeitos.
3. A bússola – É o referencial da travessia,
correspondendo à bíblia e aos evangelhos como os marcos norteadores da
navegação.
4. A terra – Como um novo mundo; apontando para
a concretização escatológica de toda a esperança cristã, com implicações para
toda a criação.
Por
fim, o autor apresenta a encarnação como à expressão máxima desta unidade e
conclama o leitor a desenvolver uma espiritualidade cristã da ação histórica.
[1] Possui
licenciatura plena em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (1990), mestrado em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo
(1994) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo
(2009). Atualmente é professor adjunto do departamento de Filosofia da
Universidade Federal do Espírito Santo. Fonte: Plataforma Lattes http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4791067T8
Em 18 de dezembro de 2013, 23:30.
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