ESBOÇO - A ESCADA HERMENÊUTICA.
A ESCADA HERMENÊUTICA. PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS PARA A
INTERPRETAÇÃO ESCATOLÓGICA NA BÍBLIA.
Jhon
Walvoord[1] , fundador do seminário
teológico de Dalas, fez um estudo minucioso de todas as profecias bíblicas,
chegando a conclusão de que aproximadamente metade das mesmas se cumpriram
literalmente. Embora este autor tenha um compromisso com uma visão escatológica
particular. É notável o seu esforço de harmonizar estas referências num
sistema bíblico. Aprendemos com este e outros estudiosos que devemos valorizar
o material escatológico, pois trata-se de um conteúdo extenso e valioso demais
para ser ignorado pelo interprete/leitor das escrituras.
Os
grandes sistemas escatológicos são mapas que norteiam a caminhada bíblica.
Temos atualmente três grandes sistemas escatológicos e alguns subsistemas
derivados deles.[2]
Apesar de diferirem quanto a extensão e aplicação dos princípios hermenêuticos
costumam, entretanto, reconhecer os mesmos princípios gerais de interpretação.
Existem
afirmações que são comuns a todos os sistemas escatológicos sendo ponto de
consenso nas comunidades cristãs. É natural que utilizemos estes mapas para
fazer a leitura e a caminhada pelas escrituras, porém é necessário reconhecer
que os mapas são representações/aproximações do material bíblico. São fruto do
labor teológico e por consequência são falíveis em suas expressões da revelação
bíblica. Apesar de utilizarmos mapas, nunca deveríamos abrir mão de fazermos a
caminhada por nós mesmos.
Costuma-se
dividir escatologia em duas seções principais.: A escatologia inaugurada e a
escatologia futura. Embora elas sejam relevantes e representem um todo
harmônico a ênfase desta palestra refere-se a escatologia futura.[3] em especial aos eventos
da chamada esperança cristã.
Um
erro que os interpretes podem cometer ao estudar as profecias bíblicas refere-se a seleção e ordenamento dos vários materiais, livros e gêneros bíblicos.
Como o material escatológico está em toda escritura[4], a harmonização deste
conteúdo, em uma visão abrangente e clara, estará diretamente ligada a uma determinada opção de ordenamento do conteúdo.
Utilizemos
como analogia uma escada e consideremos como etapas ou degraus da mesma, a leitura e
interpretação dos materiais escatológicos das escrituras. Coloquemos no degrau
mais elevado a literatura apocalíptica, encontrada nos livros de Daniel, Ezequiel e Apocalipse, por exemplo, logo abaixo façamos um novo degrau com o conteúdo geral dos
profetas maiores e menores, logo abaixo os demais conteúdos vétero-testamentários, salmos,
narrativas históricas, pentateuco. Se continuássemos descendo a escada teríamos
o conteúdo escatológico das epístolas gerais e da teologia paulina, e no primeiro degrau
encontraríamos o material escatológico dos evangelhos em especial os discursos
de Jesus.
Se
o nosso objetivo como intérpretes é o de fazer um estudo sistemático, e o mais
abrangente possível das escrituras partindo de um princípio indutivo,
deveríamos então, subir esta escada. Quanta confusão poderíamos ocasionar ao
fazer o caminho oposto! Mas, justamente o caminho dedutivo é o que costuma ser
realizado pelo leitor não especializado das escrituras. Como consequência, uma
interpretação imprecisa de um material extremamente complexo como a literatura
apocalíptica[5] acaba por turvar a interpretação do material absolutamente claro dos evangelhos e demais
escritos neo-testamentários.
Nesta
analogia, subir a escada hermenêutica seria, portanto, considerar atentamente
cada material bíblico a partir do seu gênero literário, e conteúdo
escatológico, considerando como modelo para interpretações da escatologia
futura.[6] A própria
realização/cumprimento das promessas messiânicas presentes na chamada
escatologia realizada. Esta escada parte do evento-Cristo como chave
hermenêutica para a compreensão de toda a revelação bíblica e escatológica.
Algumas
vantagens desta abordagem logo se apresentam. Primeiro partem-se afirmações categóricas
e absolutamente claras do conteúdo profético para a interpretação das passagens
mais obscuras, o que é um bom princípio hermenêutico. Segundo, respeita-se a diversidade de gêneros
literários e materiais bíblicos, fazendo a interpretação em cada caso, só então
a associando com o todo. Terceiro leva-se em consideração a progressividade da
revelação e o cumprimento das profecias referentes a Cristo. Quarto suspende-se
temporiamente[7]
as abordagens dedutivas (mapas escatológicos), e fazendo-se o caminho por si mesmo,
dialogando com as diferentes abordagens.
EX.
DOUTRINA DA VOLTA DE CRISTO.[1]WALVOORD, Jhon. Todas as profecias da Bíblia, pág.8- “A revelação da profecia na Escritura serve como importante prova de que a Bíblia é exata em sua interpretação do futuro. O fato de que aproximadamente metade das profecias bíblicas já teve o seu cumprimento de forma literal concede-nos uma base intelectual adequada para presumir que a profecia que ainda aguarda um desfecho terá, de igual modo, cumprimento integral. Ao mesmo tempo, justifica-se a conclusão de que a Bíblia é inspirada pelo Espírito Santo e a profecia, a qual foge ao controle de qualquer esquema humano, é de fato uma revelação feita por Deus sobre o que ainda acontecerá. O cumprimento de diversas profecias serve como guia para a interpretação das que ainda aguardam sua realização.”
[2]Amilenismo,
Pré-milenismo, Pós-milenismo. O pré-milenismo costuma se subdividir em
Pré-milenismo histórico e Pré-milenismo dispensacionalista. Estes sistemas são
nomeados a partir da forma como os mesmos interpretam o reino milenar descrito
em Apocalipse 20. Embora este seja o ponto de partida a verdade é que os mesmos
constituem verdadeiros sistemas de interpretação. Ver. ELWELL, Walter.
Enciclopédia histórico-teológica da Igreja Cristã. Pág.518-523
[3]
HOEKEMA, Anthony. A bíblia e o futuro, a doutrina bíblica das últimas
coisas. HOEKEMA faz um estudo minucioso
a partir desta distinção. Existem elementos já realizados sobretudo
considerando o cumprimento da expectativa messiânica em Cristo. Mas existem
ainda desdobramentos que são esperados para o futuro.
[4]
Foi o próprio Cristo quem disse que era necessário que se cumprisse nele tudo
que estava escrito na lei nos profetas e nos salmos.
[5]
SPROUL,R.C. O conhecimento das escrituras, Pág.107 – “De todas as formas de profecia, a apocalíptica é a mais difícil de
estudar e interpretar. A literatura apocalíptica caracteriza-se pelo alto grau
de imagens simbólicas que, em alguns casos para nós são interpretados e em
outros deixados sem interpretação. [...] Uma chave importante para interpretar
estas imagens é procurar o seu sentido geral na própria Bíblia.”
[6]
Tipologias, profecias condicionais e incondicionais, interpretações literais e
simbólicas, linguagem apocalíptica. Devem ser interpretadas a partir de
evento-Cristo. Vide BERKHOF, Louis. Princípios de interpretação bíblica.
Pág.139-151
[7]
É impossível evitar pressuposições ao fazermos a leitura bíblica. Porém,
deveríamos nos esforçar para suspender temporariamente nossas pressuposições ao
fazermos uma leitura atenta e crítica das escrituras colocando a prova as
nossas próprias ideias.
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