LEITURA - BITUN, Ricardo. Mochileiros da Fé, SP. 2ª edição. Editora Reflexão, 2011. 130 páginas.
Resenha
do Livro
Mochileiros da Fé, Ricardo Bitun. 130 páginas.
1.
Referência bibliográfica: BITUN, Ricardo. Mochileiros da Fé, SP.
2ª edição. Editora Reflexão, 2011.

3. Perspectiva teórica da obra. Trata-se de um
ensaio. Na obra o autor aborda o tema do transito religioso, no cenário evangélico
brasileiro, para isto o autor se vale da metáfora do mochileiro da fé, que pelo
seu caráter dinâmico e fluído procura descrever o nomadismo religioso. Para desenvolver
o tema, o autor procura delimitar o contexto deste trânsito analisando a
transformação da sociedade brasileira a partir do estudo do conceito weberiano
de secularização da sociedade. Ao delimitar o seu objeto de estudo o neopentecostalismo,
o autor se vale de seus estudos anteriores, pioneiros na matéria, bem como de obras
de referência que analisam o fenômeno do pentecostalismo e do protestantismo de
modo geral, tais como as de Freston, Brandão, Mendonça e Mariano. Em suas análises sobre a produção e troca de bens
simbólicos, o autor fundamenta-se na clássica obra de Bourdieu, destacando-se
ainda que o autor recorre amplamente ao instrumental da análise de campo para
compreender o fenômeno da migração religiosa.
4. Breve síntese da obra. A obra está
dividida nas quatro seções principais, seguidas por uma breve conclusão, onde
as teses do presente ensaio são apresentadas. No primeiro capítulo denominado “em
que mundo transitam os mochileiros da fé?” o autor traça um panorama teórico da
transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna e as transformações
que esta mudança ocasionou nas relações sociais. Apresenta as consequências do
processo de secularização/modernização no pensamento contemporâneo em que a
escatologia tradicional herdada da cosmovisão judaico-cristã é substituída por
uma concepção de realização material e presente. Nesta mudança o interesse pelo
“além”, foi deslocado para o horizonte desta vida. Na segunda seção denominada
de “os espaços sagrados da peregrinação” o autor analisa o campo religioso
brasileiro, e faz a apresentação das tipologias do pentecostalismo. Para tal, analisa
a história do protestantismo, os dados demográficos do cenário religioso
brasileiro e as tipologias propostas para o estudo do pentecostalismo,
apresentando o neopentecostalismo como uma terceira onda. Na terceira e quarta
seção, o autor, por meio de ampla evidencia empírica, apresenta o fenômeno do trânsito
religioso no seio das igrejas neopentecostais, com destaque para a IMPD[1] e IURD[2]. Este trânsito ocorre a
partir de uma competição religiosa pelo mercado religioso, em que os bens
simbólicos da religião, são produzidos e comercializados visando o consumidor
religioso. Este trânsito, pode ocorrer entre diferentes tradições religiosas e,
ou no seio de uma mesma tradição, gerando um acirramento da competição tudo
orientado pelo instrumental do marketing religioso.
5. Principais teses desenvolvidas na obra. Nas considerações
finais, o autor faz o apontamento das principais ideias defendidas ao longo do
trabalho. A saber, primeiro o rápido crescimento pentecostal está associado a
produção e distribuição de bens simbólicos de consumo. O transito religioso no
seio destas igrejas decorre de soluções imediatistas oferecidas aos fieis, como
no caso da cura divina, na IMPD. Este tipo de relação produz o acirramento da
competição entre agentes religiosos, como no caso da cisão entre IURD e IMPD. A
mensagem neste tipo de práxis religiosa pode ser adequada as exigências do mercado
religioso, tal como pode ser percebido nas abordagens da IMPD, onde os
elementos tradicionais da teologia do pentecostalismo clássico, bem como de
outras tradições (sincretismo), são relativizados e, ou enfatizados conforme a
estratégia de arregimentação dos consumidores da fé. O futuro da IMPD está
aberto, podendo a mesma ser uma continuidade do neopentecostalismo de terceira
onda, ou talvez, uma nova e quarta onda neste amplo movimento.
6. Reflexão crítica sobre obra e implicações para o
ministério.
Esta relevante e premiada obra[3] levanta profundas e
urgentes reflexões para o ministério pastoral contemporâneo. Procurarei apresentar algumas que despertaram a
minha atenção ao ler esta obra: Primeiro, de que maneira, a conhecida realidade
da “porta dos fundos” nas igrejas locais, pode ser melhor compreendida a partir
desta análise proposta pelo autor? Segundo, até que ponto estratégias de marketing afetam o conteúdo do discurso religioso atenuando
as exigências e maximizando as recompensas para prejuízo da verdade? Terceiro, como
realizar o “discipulado” numa era de pouco compromisso? Será que o rápido crescimento
do segmento evangélico, em sua vertente neopentecostal pode ser considerado um
crescimento efetivo do cristianismo em terras brasileiras?
Por estas e outras
questões. Recomendo a leitura da referida obra.
Manoel Gonçalves
Delgado Júnior
Comentários
Postar um comentário