REFLEXÃO - Bons comandantes deveriam ser os últimos a abandonar o navio.


Comandante abandona o Navio. Vergonha Mundial. 


            Amanheci com uma imagem em minha mente nesta sexta feira.  A lembrança do triste episódio envolvendo o Capitão do Cruzeiro Costa Concórdia no trágico naufrágio ocorrido na costa da Itália próximo a ilha de Giglio numa sexta feira de janeiro deste ano.

            De acordo com o que foi noticiado na imprensa, o comandante Francesco Schettino no referido naufrágio teria se negado a prestar socorro aos tripulantes do Cruzeiro literalmente abandonado o Navio.

            A negligência foi registrada em uma gravação que se tornaria pública, em que capitão Gregorio De Falco, da Capitania do Porto de Livorno, e o capitão do Costa Concórdia, Francesco Schettino travaram no referido episódio:

De Falco: "O que você está fazendo comandante?"
Schettino: "Vou para lá para coordenar os trabalhos de socorro..."
De Falco: "Quem está coordenando lá? Volte agora a bordo para coordenar o socorro a bordo. Você está se recusando?"
Schettino: "Não, não me recuso."
De Falco: "Você está se recusando a voltar a bordo? Diga-me por qual motivo você não vai para lá?"
Schettino: "Eu não estou indo para lá porque outro barco (bote de socorro) chegou..."
De Falco: "Volte a bordo, é uma ordem. Você não deve pensar em outra coisa. Você declarou o abandono do navio. Agora sou eu quem comanda. Volte a bordo! Entendido? Ouviu? Vá lá e entre em contato diretamente do navio. No local já há o meu socorro aéreo."
Schettino: "Onde está o seu veículo de socorro?"
De Falco: "Ele está na proa. Vá para lá. Já há corpos, Schettino."
Schettino: "Quantos?"
De Falco: "Eu não sei. Um com certeza, eu fui informado. É você que tem que me dizer quantos, caramba."


            Por este episódio a promotoria italiana o acusou de homicídio culposo múltiplo, naufrágio e abandono do navio. O telejornal Fantástico da Rede Globo de televisão denominou esta atitude de Schetino como um episódio que a Itália quer esquecer. 
            Toda a imagem de grande comandante que Schettino possuía afundou naquela costa, naquela fatídica noite de sexta-feira. De Falco foi aclamado como herói da noite para dia pela postura integra e corajosa que ele demonstrou ali.  Esta história correu o mundo por que  uma das máximas mais conhecidas de nossa cultura é justamente a de que bons comandantes deveriam ser os últimos a abandonar os navios que eles lideram.
            
        Jesus nos apresenta outra figura acerca da liderança integra. Figura esta que ele vai atribuir a si mesmo. A figura do Pastor das Ovelhas. O evangelho segundo João registra que o Senhor Jesus disse em certa ocasião: Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem às ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas. João 10: 11-13

            Nesta nova figura temos agora outro contraste, um bom pastor não abandona as suas ovelhas, pois estas lhe pertencem e ele não está disposto a entrega-las facilmente.  

          O mercenário por sua vez, é alguém que no contexto agropastoril daqueles dias, é contratado para ser um pastor temporário das ovelhas recebendo para esta finalidade o seu pagamento.

        No dia a dia, aparentemente ambos são iguais, mas na hora da adversidade, do perigo, do risco de vida. O mercenário revela que sua identidade não é a de pastor, mas sim a de um oportunista. Já o bom pastor de acordo com Jesus está disposto a dar a sua vida pelas suas ovelhas.

           O mercenário não é só aquele que apegado ao dinheiro faz o seu ofício, o mercenário aqui neste contexto, pode ser também alguém que tem medo de encarar a dor, o desconforto, as implicações éticas de sua vocação. E que na hora em que todos mais esperam dele, vem a fracassar como aquele que dá suporte àqueles que dele esperam algum bem.  

         Sobre isto considero oportuno citar um autor da área de liderança que diz que: O caráter é muito importante por que não pode ser totalmente avaliado; se for deficiente, porém, falhará no momento em que mais precisarmos dele.[1]     

            Jesus por sua vez, é enfático ao dizer que ele é o bom pastor. Mattew Henry ao comentar esta passagem diz que:

Cristo é o Bom Pastor; muitos não eram ladrões, todavia foram negligentes com seu dever, e o rebanho foi muito danificado por seu descuido. Os maus princípios são a raiz dos maus costumes.

O Senhor Jesus sabe aos que tem escolhido e está seguro deles; também eles sabem em quem confiaram e estão seguros dEle.

Veja-se aqui a graça de Cristo: já que ninguém podia tira-lhe a vida, Ele a entrega, por si mesmo, para nossa redenção. Ele se ofereceu para ser o Salvador: Eis aqui, Eu venho. A necessidade de nosso caso o pedia, e Ele se ofereceu para ser o sacrifício. Foi o que oferece e a oferta, de modo que a entrega de sua vida foi a oferta de si mesmo. Daí fica claro que Ele morreu no lugar e como substituto dos homens para lograr que eles fossem liberados do castigo do pecado, para obter o perdão do pecado para eles; e para que sua morte adquirisse esse perdão. Nosso Senhor não entregou sua vida por sua doutrina, senão por suas ovelhas.[2]

         No sentido histórico redentivo, somente o Senhor Jesus é o bom pastor das ovelhas. Somente ele as possui e somente o seu sacrifício assegura às mesmas a vida eterna.

   Contudo, no sentido da liderança geral, no contexto das responsabilidades éticas, diante das grande necessidades da vida, somos chamados por Deus, a responsabilidade de nos posicionarmos decisivamente em favor da verdade, em favor da vida em favor dos que de nós dependem num dado contexto.

       Temos a responsabilidade, a luz destes dois exemplos, de num naufrágio não abandonarmos o navio e diante dos lobos de não abandonarmos as ovelhas.            

Por Manoel Delgado

[1] SMITH, Fred, O impacto da Liderança com integridade, Editora Vida, pág.18
[2] HENRY, Mattew, Comentário Bíblico, consultado em Bíblia digital E-Sword

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