LEITURA - ÉTICA MINISTERIAL: UM GUIA PARA A FORMAÇÃO MORAL DE LÍDERES CRISTÃOS

RESENHA: TRULL,J. & CARTER, J. Ética Ministerial: Um guia para a formação moral de líderes cristãos. ed. Vida Nova. São Paulo 2010, 318p.
Apresentação do/a autor/a da obra. A obra escrita em co-autoria por Joe E. TRULL, Ph.D. pelo Southwertsten Baptist Theological Seminary e James E. CARTER, Th.D. pelo Southwertsten Baptist Theological Seminary. Publicada no Brasil por edições Vida Nova, esta obra representa uma importante contribuição para a formação de líderes cristãos na área da ética ministerial, preenchendo uma lacuna bibliográfica, e ao mesmo tempo, respondendo as transformações que resultaram na sociedade complexa em que vivemos.
Perspectiva teórica da obra. A obra apresenta rigor acadêmico e praticidade advinda da experiência ministerial dos autores. Os capítulos que tratam dos fundamentos (1,2,6,7) foram formulados por Trull que é professor de ética do seminário. Os capítulos mais práticos (3,4,5) desenvolvidos por Carter que é pastor com mais de 30 anos de experiência e foi diretor de relação ministerial na sua denominação. Porém, pode-se afirmar que o trabalho final foi uma co-autoria, uma vez que os autores trabalharam em cooperação em todas as partes do projeto.
Breve síntese da obra. A obra está organizada com a apresentação dos prefácios da primeira e segunda edição da versão original, uma introdução, nos oito capítulos que compõem o conteúdo principal, e em cinco apêndices ao final da obra. Os temas abordados pela obra são apresentados nos seguintes capítulos:  No capítulo 1, “A vocação ministerial: Carreira ou profissão.” os autores apontam que a gênese do conceito de profissão, não era secular, mas sagrada e associada a uma vocação permanente, voltada para o bem da comunidade. O capítulo 2, “As escolhas morais do pastor: Inatas ou adquiridas?”, versa sobre ética pessoal do ministro, seu caráter e valores. Defende-se o conceito de integridade ética e apresenta que é dever do ministro crescer constantemente no seu caráter e ética. No capítulo 3, “A vida pessoal do pastor: acidental ou intencional?”, os autores abordam os relacionamentos pessoais do ministro. No capítulo 4, “Os membros da igreja: amigos ou inimigos?”, desenvolve-se a relação com a Igreja. O capítulo 5, tem como título: “Os colegas do pastor: cooperação ou competição?”. Os autores neste capítulo desenvolvem o tema da relação dos pastores com os seus colegas de ministério. No capítulo 6, “A comunidade do pastor: ameaça ou oportunidade?”, tratam sobre o relacionamento e a conduta do pastor em relação à comunidade na qual sua igreja está inserida. No capítulo 7, “Uma questão ética importante; abuso sexual no ministério”, os autores desenvolvem o delicado tema do abuso sexual e o ministério pastoral. O capítulo 8, “Um código de ética ministerial: auxílio ou empecilho?”, os autores defendem a importância da adoção/formulação de um código de ética claramente definido. No final do livro, há um esboço de um código de ética ministerial, e apêndices, com modelos de códigos de éticas de algumas denominações e ministérios cristãos.

Principais teses desenvolvidas na obra. De acordo com o resenhista Valdemar Alves da Silva Filho1 o livro pode ser resumido a seis pressupostos fundamentais: “ 1) Quase todos os pastores desejam ser indivíduos íntegros, cuja vida profissional preserva os ideais éticos mais elevados; 2. A formação do caráter moral e da conduta ética é um processo difícil; 3. Todo o pastor precisa de treinamento nas áreas de ética e formação espiritual; 4. a prática da ética é uma arte que pode ser aprendida; 5. Todo ministro cristão precisa tomar a mesma decisão moral ética que outros profissionais liberais: serei um capacitador ou um mero explorador de pessoas e 6. Quando usado de forma apropriada, um código ministerial de ética beneficia tanto os pastores quanto às comunidades que eles servem (p. 21).”

Reflexão crítica sobre obra e implicações para o ministério. A obra é excelente. Os autores alcançam o objetivo pretendido. Conseguem produzir um material relevante, útil para os seminários nos seus cursos de formação ministerial, e igualmente proveitosa para pastores, agências missionárias e ministérios locais. Especialmente nos apêndices ao final da obra. Nesta seção os leitores são munidos com uma série de modelos com aspectos práticos e metodológicos envolvendo a ética ministerial. Este material no todo é rico em informações, estatísticas e exemplos práticos, quisera eu ter lido um material assim em minha fase formativa. Não sobra nada a ser discutido, eles abordam tudo que é relevante. Da ética sexual, a vaidade dos ministros. De questões envolvendo a ética do cuidado, o ensino, e o procedimento em visitas e aconselhamento a questões como o plágio de obras teológicas, e questões mais complexas envolvendo direitos autorais. Nada escapa da percepção destes autores, que utilizam a sua experiência ministerial para confrontar o leitor colocando  "o dedo na ferida." 
O que me causou espanto foi justamente a informação apresentada de que nos seminários, existe um desinteresse geral pela disciplina de ética ministerial. Havendo um declínio do seu oferecimento nas instituições teológicas. Tal fato, me fez recordar de um alerta semelhante apresentado pelo teólogo Anglicano J.I. Packer que ao desenvolver o seu levantamento bibliográfico sobre a doutrina da Santidade, tema de seu importante tratado, teve a infeliz constatação de que em quase 100 anos o tema não recebeu a consideração teológica devida, inexistindo publicações com esta ênfase em todo este período. Devido a este fato, a sua obra recebeu o título de “A redescoberta da santidade.2Igualmente poderíamos considerar o declínio do discipulado clássico e dos ministérios tradicionais de educação cristã que tem minguado nas igrejas Brasil à fora. O que estes fatos vistos em conjunto podem significar?

Se este tema ja é relevante nos EUA e Inglaterra berços do protestantismo, imagine em nosso País, onde temos acompanhado a queda de credibilidade nas instituições ocasionada pela percepção cada vez maior da corrupção, aliada a nossa cultura pragmática e utilitarista, que muitas vezes é conhecida como “jeitinho”, uma forma tipicamente brasileira para nomear o desvio ético.
1Op.cit.
2PACKER, J.I. A Redescoberta da Santidade, Editora Cultura Cristã, São Paulo, SP. 2002

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