CITAÇÃO - A TEOLOGIA DO DOMÍNIO.
A Teologia do Domínio
A teologia do domínio (TD) é uma corrente de pensamento que defende que os cristãos devem exercer influência e autoridade sobre as diversas esferas da sociedade, como a política, a economia, a educação, a cultura e a mídia. Essa corrente se baseia na interpretação de que os cristãos são responsáveis por cumprir o mandato cultural de Deus, que consiste em dominar e cultivar a terra, conforme Gênesis 1:28.
Alguns dos principais expoentes da teologia do domínio são R. J. Rushdoony, Gary North, John Whitehead, Greg Bahnsen, Gary DeMar e Kenneth Gentry.
A teologia do domínio enfatiza a responsabilidade cristã de exercer influência direta sobre todas as áreas da sociedade a partir da aplicação direta da Lei de Deus baseada na Bíblia. Busca a transformação cultural por meio do engajamento ativo nas esferas secularizadas, visando estabelecer valores cristãos¹.
A TD tem sido objeto de críticas devido a interpretações extremas que podem levar a uma visão de domínio autoritário, gerando controvérsias sobre a relação entre igreja e Estado². Por esta razão, alguns entendem que esta teologia não seria genuinamente evangélica, mas uma expressão do fundamentalismo religioso aplicada na esfera pública³.
Em que pesem todas as ressalvas acerca das reivindicações teocráticas da teologia do domínio, é preciso reconhecer que ela não propõe a destruição das instituições democráticas ou da ordem pública, antes a sua proposta de influência da lei de Deus passa pela transformação do indivíduo, pela educação e pela renovação das famílias, e influência social ascendente, numa perspectiva escatológica pós-milenista.
De acordo com McVicar, há um conceito que guia todo o pensamento social e político de Rushdoony, a saber, o do “homem do domínio”. Isso significa que o teólogo calvinista estadunidense propõe que no centro dos esforços dominionistas estejam os indivíduos e suas respectivas famílias. Portanto, é necessário compreendermos que, para Rushdoony, “o governo de Deus no mundo começa com o ‘autogoverno’ dos cristãos”, já que “cada ser humano em Cristo deve ser uma lei ambulante e uma evidência da presença do Espírito Santo”. Assim, o indivíduo cristão autogovernado pela lei de Deus opera a reconstrução do mundo. Não obstante, as famílias têm um papel essencial no domínio, pois, segundo Rushdoony, a família é a instituição básica da sociedade e a ela pertence o controle da “criança, da propriedade, da herança, da educação e do bem-estar”⁴.
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Notas de fim:
1. De acordo com a distinção feita por Robert C. Sproul Jr., o Teonomismo se refere à ideia de que a lei dada por Deus ao Israel bíblico é ainda válida como norma jurídica para todas as nações; o Reconstrucionismo, por sua vez, abrange o Teonomismo e o adiciona à proposta de uma “escatologia otimista”. A vertente reformada (calvinista) das teologias do domínio é chamada de Teonomismo Reconstrucionista (TR) – às vezes, somente de Reconstrucionismo. Diferentemente da 7M, o TR se reveste de ancestralidade teológica mais complexa, possuindo raízes na teologia calvinista. Além disso, os adeptos do TR, de modo hegemônico, alinham-se à promoção de uma reforma da educação, à escatologia pós-milenista, à apologética pressuposicionalista e à teologia da aliança. As conexões com segmentos políticos conservadores dos EUA (onde o TR emerge), nem sempre são neutras. Cf. NOVAS, Tiago de Mello; CAMPOS, Breno. Protestantismo político no Brasil: do ativismo conservador à teologia do domínio. Revista São Leopoldo, v. 47, n. 2, p. 29–40, jul./dez. 2021. Disponível em: https://revistas.est.edu.br/index.php/NEPP. Acesso em: 06 dez. 2023.
2. PEREIRA, Eliseu. Teologia do domínio: uma chave de interpretação da relação evangélico-política do bolsonarismo. Projeto História, São Paulo, v. 76, p. 147–173, jan.–abr. 2023. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/60331. Acesso em: 06 dez. 2023.
3. Particularmente creio que seja necessário separar a teologia do domínio reformada em suas vertentes teonômicas e reconstrucionistas moderadas, de sua versão extremada no reconstrucionismo radical, bem como de sua versão caricatural presente no movimento apostólico, com a teologia dos Sete Montes (7M), presente na arena pública, com arroubos retóricos radicais. Cf. op. cit., p. 35.
4.McVICAR, Michael J. Christian Reconstruction: R. J. Rushdoony and American Religious Conservatism. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2015.
5. Especialmente algumas conclusões exegéticas de Rousas John Rushdoony — como a defesa da aplicação da pena capital a homossexuais, mulheres em adultério e certos criminosos, bem como sua interpretação extremada sobre o dízimo — revelam o caráter controverso de parte de sua proposta. Tais elementos constituem apenas duas entre várias razões pelas quais se torna necessário distinguir a teologia do domínio reformada em suas vertentes teonômicas e reconstrucionistas moderadas, de sua versão extremada no reconstrucionismo radical. Além disso, merece ressalva sua vertente caricatural, presente no movimento apostólico contemporâneo, particularmente na teologia dos Sete Montes (7M), que se manifesta na arena pública com arroubos retóricos de radicalismo religioso. Cf. op. cit., p. 35.
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Fonte: Manoel Gonçalves Delgado Junior, tese de doutorado, Servo de Cristo, São Paulo, 2024. Obra não publicada.
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