RESENHA - PROVIDÊNCIA E POESIA.

As grandes navegações. Obra da providência!

I. O INFANTE

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagroute, e foste desvendando a espuma,


E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.


Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Fernado Pessoa.

Resenha: Mensagem — A Providência em Verso

A obra Mensagem, publicada em 1934, é a única que Fernando Pessoa lançou em língua portuguesa durante sua vida. Composta por 44 poemas, ela se apresenta como uma epopeia moderna que revisita o passado glorioso de Portugal, critica seu presente decadente e projeta um futuro esperançoso através do mito do Quinto Império. Apesar de pertencer ao movimento modernista, a obra mantém versos regulares e rimas, revelando um estilo clássico que contrasta com a vanguarda da época.

Mas além de seu evidente nacionalismo e da exaltação histórica, Mensagem revela algo mais profundo — uma dimensão espiritual que transcende o tempo e a política. Para mim, esta poesia é uma eloquente exposição da verdade da providência divina. Pessoa, com sua habilidade singular, consegue condensar em uma simples frase o que teólogos levam páginas e páginas para explicar. Há uma força silenciosa em seus versos, como se cada palavra estivesse impregnada de um sentido maior, revelando o invisível por meio do simbólico.

A poesia, nesse contexto, torna-se um canal de revelação. Não apenas da alma portuguesa, mas da própria alma humana em busca de sentido, transcendência e redenção. Mensagem não é apenas um livro sobre Portugal — é uma meditação poética sobre destino, fé e a ação invisível da providência que guia os povos e os indivíduos.