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LEITURA - VOU ME EMBORA PRA PASÁRGADA!

Vou-me embora pra Pasárgada.

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


(...)

Resenha Literária: Vou-me embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira

📚 Sobre o autor e sua obra poética

Manuel Bandeira (1886–1968) é um dos nomes mais marcantes da poesia brasileira do século XX. Sua obra transita entre o simbolismo, o modernismo e o intimismo lírico, marcada por uma linguagem acessível, musicalidade e profundidade existencial. Bandeira enfrentou a tuberculose desde jovem, e essa experiência de fragilidade física permeia sua poesia com um senso agudo de finitude, desejo de transcendência e busca por sentido.

“Vou-me embora pra Pasárgada” é um dos poemas mais emblemáticos de sua carreira, publicado em 1930 no livro Libertinagem. A obra tornou-se símbolo de evasão poética e existencial, um grito de liberdade diante das limitações da vida real.

✨ Breve síntese do poema

O eu lírico anuncia sua partida para Pasárgada, uma terra imaginária onde tudo é possível: liberdade, prazer, acolhimento e realização dos desejos. Pasárgada representa o oposto do mundo concreto, marcado por dor, exclusão e desencanto. Lá, o poeta será amigo do rei, terá acesso ao amor, à aventura e à plenitude.

Essa fuga não é apenas geográfica ou política, mas profundamente espiritual. O poema constrói uma utopia pessoal, onde o ser humano pode finalmente pertencer, ser aceito e viver em harmonia com seus anseios mais íntimos.

🏅 Mérito literário

O poema se destaca por:

  • Linguagem simples e poderosa, que comunica diretamente com o leitor.

  • Ritmo fluido e musical, que reforça o tom de sonho e liberdade.

  • Imaginação vívida, que transforma a utopia em experiência sensível.

  • Profundidade filosófica, ao tratar da condição humana, da exclusão e do desejo de transcendência.

Bandeira consegue unir o cotidiano ao metafísico, o concreto ao simbólico, criando uma obra que ressoa tanto emocional quanto intelectualmente.

💭 Observações e opinião pessoal

Você mencionou temas cruciais que enriquecem a leitura do poema:

  • Desejo de acolhida e não pertencimento: O eu lírico não se sente parte do mundo real, e Pasárgada surge como resposta ao anseio por aceitação e pertencimento. Essa tensão entre o “aqui” e o “além” é profundamente humana.

  • Caráter transcendente da vida humana: O poema sugere que há algo além da matéria, uma dimensão onde o espírito pode se realizar. Essa busca lembra figuras bíblicas como Abraão, que deixou sua terra em obediência a uma promessa divina, e Pedro, que largou tudo para seguir um chamado maior. Ambos viveram como peregrinos, tal como o personagem de O Peregrino, de John Bunyan, que atravessa o mundo em direção à Cidade Celestial.

  • Espiritualidade e utopia: Pasárgada não é apenas um lugar de prazer, mas de redenção. É a metáfora de uma alma que anseia por algo maior, por um lar que não encontra neste mundo. A poesia de Bandeira, nesse sentido, toca o sagrado.

🌌 Conclusão

“Vou-me embora pra Pasárgada” é mais do que um poema de evasão: é uma expressão lírica da condição humana, do desejo de transcendência e da busca por sentido. Bandeira transforma sua dor em arte, e sua utopia em espelho da alma. Sua poesia nos convida a sonhar, mas também a refletir sobre o que realmente buscamos: acolhimento, liberdade e, talvez, um lugar onde finalmente possamos dizer “aqui eu pertenço”.

Quem nunca quis ir embora pra Parságada atire a primeira pedra!






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