CONTO - O PATO DE SMOKING
O Pato de Smoking e a Cultura da Lagoa
Uma metáfora sobre liderança e cultura organizacional
Por Manoel Gonçalves Delgado Jr.
Era uma vez um pato sujo que vivia à beira da lagoa com modos deploráveis. Grasnava fora de hora, mantinha a plumagem sempre arrepiada e devorava tudo o que encontrava ao alcance do bico — fosse higiênico ou não. Deglutia plantas aquáticas, insetos, peixes pequenos, minhocas enlameadas e algas viscosas. Se algo se mexia, lá ia parar em seus estreitos intestinos de pato.
E por falar em intestinos, este plumado era famoso por deixar atrás de si um rastro de excrecências, um adubo orgânico expelido com a velocidade prodigiosa de seu metabolismo acelerado. A cada meia hora, ou mais de quinze vezes por dia, ele reforçava sua reputação de verdadeiro campeão da sujeira.
O pato possuía três habilidades: nadar, andar e voar. Mas apenas em duas se saía razoavelmente bem. Era competente nos mergulhos e aceitável nos voos em bando. Já no andar... ah, no andar! Desengonçado, enviesado, tropeçava em seus próprios pés palmados, exibindo uma elegância inexistente.
Como se não bastasse, seus modos à mesa eram igualmente lamentáveis. Nunca soube usar talheres, grasnava fora de tom e sua quaca soava sempre inconveniente.
Foi então que surgiu a “solução definitiva”: contrataram um especialista em etiqueta, um verdadeiro personal stylist. O pato foi treinado para andar como um cisne, aprendeu a sequência correta dos talheres — de fora para dentro —, teve a plumagem alisada e recebeu um elegante fraque de gala. Um banho de loja e de costumes.
Lembro-me bem de sua formatura. O pato estava impecável, sentado à mesa da fazenda do lago, limpo, alinhado, rodeado de talheres reluzentes. Disseram-lhe solenemente:
— Distinto Pato, este é um momento importante. Lembre-se de sua formação!
Ele inclinou levemente o bico e respondeu: — Quack.
— Agora é vida nova! Nada de andar rude ou buscar sujeiras grosseiras. — Quack — respondeu, solene.
— Suas roupas são novas, você está limpo. Promete mantê-las assim? — Quack! Quack! — respondeu, como em juramento.
— Não desperdice o investimento que fizemos em sua formação. Cabe a você honrar este novo padrão de vida. — Quack! — disse o pato, com olhos brilhando.
E assim o soltaram de volta à lagoa. Mas, tão logo teve liberdade, grasnou o mais alto que pôde, mergulhou na lama, sujou o smoking, rasgou a casaca e voltou a ser o mesmo de sempre: sujo, fedido e selvagem. Na mesa, destruiu o banquete e espalhou os talheres.
E eu concluo esta reflexão: cabe ao pato ser pato — e aos insistentes em transformá-lo, o papel de tolos.
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