CRÔNICA - OS BRASILINOS, BRASILEIROS EM BRASÍLIA

Os Brasilinos: Uma Espécie Singular de Brasília

Entre as savanas do Cerrado e os edifícios modernistas de Brasília, prospera uma espécie peculiar: os Brasilinos, figuras que parecem brotar do solo brasileiro em ciclos regulares, como uma fauna política que não se encontra em nenhum outro lugar. São seres de aparência marcante, uma mistura etnológica,  verdadeiros resultantes da matriz brasileira, com cabeças com a curvatura craniana menos desenvolvida, corpos largos, com uma compleição física evidente, sempre envoltos em ternos desalinhados. A gravata, inclinada para a esquerda, e o colarinho frouxo são sua marca registrada, enquanto a pasta de couro preto, carregada com um ar de mistério de quem sabe os caminhos do orçamento secreto, um símbolo de sua importância.

Os Brasilinos têm um jeito bonachão, mas não se engane: quando sobem ao plenário, discursam com veemência e uma "mudéstia" que ecoa pelos salões do poder. Seu sotaque é um enigma — não se distingue se vem do Maranhão, do Amazonas, do Nordeste, do Centro-Oeste, do Sul ou até mesmo do Grão-Pará. É como se carregassem um pouco de cada canto do Brasil, uma voz que ressoa com a cadência de quem sabe se adaptar a qualquer audiência.

Eles abundam em Brasília, para onde migram em intervalos de dois, quatro anos e oito anos, seguindo o ritmo dos mandatos migratórios. No Senado, na CBF, nas Autarquias e Estatais, nos Tribunais de Contas, no Judiciário, nas Comissões de orçamento, e até mesmo nas Convenções Religiosas, Corporativas ou Médicas, os Brasilinos se reúnem em bandos, em formação "V", de verba, sempre com suas pastas, e um sorriso maroto no rosto, ressoando suas brasilidades. 

São frequentadores assíduos das casas do baixo meretrício da Capital Federal, onde se encontram à noite para selar alianças e trocar favores, muitas vezes regados a conversas que ninguém ousa repetir à luz do dia.

Os Brasilinos são uma espécie que reflete o Brasil em sua essência mais crua: uma mistura de carisma, desleixo e oportunismo. Macunaímas do Planalto. Seus ternos, ora cinza, ora azul escuro, podem variar, mas a gravata torta e o colarinho frouxo são quase um uniforme. Alguns ostentam barbas grisalhas, outros usam óculos de armação grossa, e há quem exiba broches com a bandeira nacional, ou de sua terra da qual tanto se orgulham, um toque de patriotismo que nunca falha. Em Brasília, eles são onipresentes, uma fauna que domina o cenário político nacional com a mesma naturalidade com que o Cerrado domina a paisagem. Brasilinos, brasileiros, em Brasília — uma espécie que, para o bem ou para o mal, não corre o risco de extinção.