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REFLEXÃO - SEIS PRESSUPOSTOS PARA A TEOLOGIA CRISTÃ.

Seis Pressupostos para a Teologia Cristã

Por Manoel Gonçalves Delgado Jr.

> "A fé cristã não é um salto no escuro, mas um caminhar com sentido, sustentado pela revelação, iluminado pela história e confirmado pela esperança no evangelho."

Ao longo da minha caminhada como teólogo, e pastor, sou frequentemente abordado com uma pergunta que ecoa tanto nos corredores da academia quanto nos bancos da igreja: existe uma lógica na fé cristã? Podemos sustentar racionalmente aquilo que cremos? Seria possível traçar um caminho que conduza da existência de Deus até as confissões doutrinárias da fé cristã histórica?

Sim. Existe um caminho. E ele pode ser resumido em seis pressupostos, básicos que compõem uma cadeia teológica e histórica — da realidade à revelação, da revelação à redenção.

1. Deus Existe

Este é o ponto de partida: o pressuposto ontológico. A realidade nos aponta para algo maior do que nós — ordem, beleza, propósito. O cristianismo nasce dessa convicção: há um Deus eterno, pessoal e inteligente, fundamento da existência e fonte de toda vida. Não somos obra do acaso, mas do Deus criador. A primeira pressuposição das Escrituras é que Deus existe. Gênesis 1.1.

Existe toda uma longa tradição filosófica e acadêmica que demonstra a razoabilidade da crença em Deus, e também contemporaneamente temos filósofos e cientistas que argumentam sobre o designer inteligente e a defesa do teísmo.

2. Deus Se Revela

Esse Deus não permanece oculto. Ele se dá a conhecer — na criação, na consciência e na história. Chamamos isso de revelação geral, presente em muitas culturas e tradições, especialmente nas chamadas religiões do livro. Mas há também uma revelação especial — que consistem em Deus se dando a conhecer de modo a manifestar a sua graça e salvação. 

Escrevi um artigo sobre a revelação geral que está disponível neste blog. Ver. EXISTE UMA REVELAÇÃO GERAL?

3. Deus Fala pelas Escrituras

A Bíblia é mais do que um livro sagrado: é a Palavra inspirada que registra a revelação de Deus, de modo infalível. O cristianismo crê que os textos sagrados são o meio pelo qual Deus comunica Sua vontade e propósito ao seu povo. São livros humanos, com marcas de sua época e cultura — mas que, misteriosamente e paradoxalmente, carregam o registro infalível e inerrante da revelação divina. Deus se revela através das Escrituras. Este é precisamente o testemunho de Hebreus capítulo 1.1-3.

Sobre as escrituras ver. A BÍBLIA: UM LIVRO EXTRAORDINÁRIO.

4. As Escrituras Apontam para Jesus

As escrituras apontam para Jesus como o Messias-Cristo (hermenêutica messiânica); esta hermenêutica é biblicamente derivada do movimento de Jesus, e o próprio Cristo a ensinou aos seus discípulos.

Este é o cerne: a hermenêutica cristã é messiânica. A Bíblia toda converge para Cristo. Como no caminho de Emaús, o próprio Jesus interpretou as Escrituras mostrando que Ele era o centro da história redentora. Ele é o Messias prometido, o Cordeiro anunciado, o Redentor esperado. 

5. Jesus é Deus, as Escrituras testemunham seu Nascimento, Sacrifício e Ressurreição

A reivindicação Cristã Neotestamentária afirma a divindade de Jesus, o seu sacrifício vicário, e ressurreição dos mortos, ampliando a perspectiva judaica. (Revelação progressiva)

A fé cristã afirma que Jesus é mais que um mestre — Ele é o Deus encarnado. O filho Unigênito de Deus. Viveu sem pecado, morreu vicariamente e ressuscitou ao terceiro dia. Sua encarnação é a culminância da revelação; sua morte, o ápice da redenção; sua ressurreição, a vitória da esperança e a inauguração de uma criação redimida. Esta é a revelação progressiva: do Filho eterno ao Cristo crucificado e ressurreto.

Foi o próprio Jesus quem disse que era necessário que se cumprisse nEle tudo que estava escrito na Lei, nos Profetas e nos Salmos. Lucas 24.44

6. O Kerigma Se Torna Doutrina

A proclamação apostólica (kerigma) se consolidou nos credos e confissões da fé histórica.O kerigma da Igreja Primitiva, fundamentada na Revelação Messiânica, Divindade, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. São a base dos credos e confissões do cristianismo histórico. 

Havendo fórmulas que remontam aos escritos do Novo Testamento. 1 Coríntios 15.3-8// 1 Coríntios 11.23-25// Hebreus 1.1-5, que por sua vez estão presentes no credo apostólico e doravante são desenvolvidos no Credo de Nicéia, Calcedônia e de Atanásio.

Destas verdades emergem as doutrinas básicas como a trinitária e a das duas naturezas do Redentor. A fé cristã não é uma invenção tardia: é antes raiz profunda que remonta ao velho testamento e que floresceu nos primeiros séculos e se mantém viva até hoje.

Infográfico. Funil Teológico: Da Existência à Confissão da Fé Cristã

1. DEUS EXISTE Pressuposto ontológico. Fundamento da realidade: há um Deus eterno, pessoal, inteligente e criador.

2. DEUS SE REVELA Pressuposto epistemológico Esse Deus não é silencioso, mas se comunica: revela-se na criação, na consciência e na história.

3. DEUS FALA PELAS ESCRITURAS Pressuposto da mediação revelacional. A revelação se torna acessível e registrada por meio das Escrituras. A Bíblia é a Palavra de Deus.

4. AS ESCRITURAS APONTAM PARA JESUS COMO MESSIAS. Pressuposto hermenêutico. Cristo é o centro da revelação. A Bíblia converge para Ele como o cumprimento das promessas.

5. CRISTO É DEUS, MORREU E RESSUSCITOU. Pressuposto cristológico-soteriológico. A fé cristã se ancora na pessoa e obra de Jesus: divindade, cruz e ressurreição.

6. O KERIGMA SE TORNA DOUTRINA. Pressuposto eclesiológico-dogmático. A proclamação apostólica se torna base dos credos históricos do cristianismo: Trindade, encarnação, salvação, esperança.



Conclusão

A fé cristã é histórica, revelacional e razoável. Não se baseia apenas em sentimentos, ou irracionalidade (fideísmo), mas em fatos, promessas e testemunhos. A fé não anula a razão — ela a transcende e a integra, conduzindo à uma esperança que não decepciona.

Em resumo: O cristianismo possui um caminho lógico e histórico para suas crenças básicas e seu método de interpretação. Essa estrutura é mais que um sistema de ideias: é uma resposta à revelação do Deus vivo. E mais – é possível mostrar historicamente a razoabilidade da fé cristã, ainda que as evidências não sejam a base da fé, mas sim seu suporte e confirmação. Como diria Anselmo Fides Quarens Intelectus. 

O mais interessante? Estes pressupostos são razoáveis, verificáveis e compatíveis com as evidências históricas, filosóficas da crença em Deus, e do desenvolvimento histórico do cristianismo. 

Estes seis pressupostos fazem parte do curso que estou desenvolvendo, intitulado Cristianismo Histórico: uma abordagem histórica e apologética, que estará em breve disponível em novos formatos — palestras, artigos, livros e curso online.

Se este conteúdo falou ao seu coração, compartilhe com outros que buscam compreender a beleza da fé cristã. E lembre-se: toda boa teologia deve nos levar à devoção.

Soli Deo Gloria.

Sobre o autor:

Manoel Gonçalves Delgado Jr. é teólogo, historiador e educador cristão. Diretor do Instituto Bíblico Rev. Augusto Araújo (IBAA) em Cuiabá–MT, possui mestrado e doutorado em Teologia, além de especializações em História e Liderança. É fundador da plataforma Charis EAD & Consultoria, onde atua com ensino teológico, mentoria ministerial e produção de conteúdos voltados à espiritualidade, missão e cultura. Apaixonado por Teologia Reformada, história da Igreja e apologética cristã, mantém o blog Horizontes Verticais, onde compartilha reflexões, artigos e estudos que buscam unir fé, razão e compromisso com o Evangelho de Jesus Cristo.

Referências

Alister McGrath. Christian Theology: An Introduction. 5ª ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011. (Teologia sistemática que aborda, entre outros temas, revelação, cristologia e Trindade, destacando a continuidade histórica das doutrinas cristãs)

William Lane Craig. Apologética Contemporânea: a veracidade da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2012. (Obra que apresenta argumentos filosóficos e históricos em favor do teísmo cristão, incluindo a existência de Deus, o design inteligente, e evidências da ressurreição de Jesus)

John Stott. A Cruz de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 1989. (Estudo clássico sobre o significado teológico da morte de Jesus, enfatizando o sacrifício vicário e a centralidade da cruz para a fé cristã)

John Stott. Cristianismo Básico. 5ª ed. São Paulo: ABU Editora, 2006. (Introdução aos fundamentos da fé cristã, cobrindo temas como a divindade de Cristo, a confiabilidade das Escrituras e a ressurreição, de forma acessível porém sólida)

N. T. Wright. Simplesmente Cristão: por que o cristianismo faz sentido. Viçosa: Editora Ultimato, 2008. (Apresentação contemporânea dos pilares da fé cristã, relacionando os anseios humanos com as respostas do teísmo cristão e abordando a figura de Jesus dentro do contexto da história de Israel)

N. T. Wright. The Resurrection of the Son of God. Minneapolis: Fortress Press, 2003. (Obra acadêmica extensa examinando as evidências históricas da ressurreição de Jesus e seu significado no contexto do judaísmo do Segundo Templo, defendendo a plausibilidade histórica da ressurreição)

Sagradas Escrituras (Bíblia Sagrada). Referências bíblicas variadas são extraídas da tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada. (Citações diretas de João 5:39; Lucas 24:27,44; Romanos 1:20; etc., utilizadas conforme apareciam no contexto da argumentação teológica)

Pelikan, Jaroslav. The Christian Tradition: A History of the Development of Doctrine, Vol.1. Chicago: University of Chicago Press, 1971. (Historiador do pensamento cristão que explora a formação das doutrinas nos primeiros séculos, elucidando como o kerigma apostólico se desenvolveu nos credos)

Sproul, R. C. Everybody’s a Theologian: An Introduction to Systematic Theology. Orlando: Reformation Trust, 2014. (Compêndio teológico que reforça distinções entre revelação geral e especial, e apresenta de forma didática as doutrinas da Trindade e de Cristo baseadas na Bíblia)

Agostinho de Hipona. Frase célebre: “O Novo Testamento está oculto no Antigo, e o Antigo está manifesto no Novo”, frequentemente atribuída a Agostinho, resume a visão patrística da relação entre as duas dispensações da revelação.

– Manoel Gonçalves Delgado Jr.

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