REFLEXÃO - POR QUE AINDA NÃO VENDO CURSOS ONLINE?

Reflexão: Por que (ainda) não vendo cursos online?

Uma reflexão pastoral sobre vocação, ética ministerial e caminhos possíveis na era digital.

Amigos,

Gostaria de colocar aqui uma questão. Um desabafo em voz alta.

Há bastante tempo venho estudando formas de ampliar minha influência como professor de teologia por meio do ensino a distância.

Contudo, sempre esbarro em alguns gargalos e dilemas éticos, o que me leva, repetidamente, a adiar projetos.

Compartilho alguns deles:

1. Não consigo cobrar por discipulado ou mentoria de líderes.
   Embora reconheça que há quem o faça legitimamente, minha consciência me impede. Não se trata de direito, mas de um desejo profundo de não criar obstáculos ao evangelho.

2. Cursos online exigem qualidade técnica.
   Áudio, vídeo, iluminação, plataforma robusta, divulgação — muitas vezes com impulsionamento pago — tudo isso implica em custos operacionais significativos. Excelência exige investimento. E, como diz a Escritura, o trabalhador é digno do seu salário.

3. Não posso terceirizar a divulgação.
   Tenho observado que alguns teólogos respeitados acabam prejudicados em sua reputação ao delegarem essa tarefa a equipes de marketing agressivo. Estratégias como “funil de vendas”, títulos sensacionalistas ou “clickbaits” comprometem a dignidade do conteúdo.

4. Não consigo cobrar valores exorbitantes por disciplinas.
   Em cursos regulares, essas disciplinas são oferecidas a preços acessíveis. Não me parece coerente cobrar um valor muito superior apenas pela modalidade online.

5. Tampouco me agrada desvalorizar o conteúdo.
   Oferecer o curso a um preço simbólico, que banalize a mensagem, também me parece impróprio. A Palavra merece honra.

6. A simonia é um risco real.
   O pecado de comercializar o sagrado paira como sombra sobre todos os que ingressam nesse campo. Afinal, lidamos com algo que nos foi dado gratuitamente por Deus. Isso exige vigilância constante do coração.

7. Não julgo quem escolhe outro caminho.
   Tenho colegas que atuam legitimamente no ensino online, com zelo e fé. Reconheço que há formas éticas de fazê-lo. Trata-se de uma plataforma com suas regras e desafios próprios.

8. O modelo que me parece mais íntegro é este:
   Oferecer o curso gratuitamente (ou apenas pelo custo da plataforma), e vender a certificação, caso o aluno deseje comprovação formal. Assim, não se vende o conhecimento, mas o processo formativo e o reconhecimento acadêmico.

Este modelo tem sido utilizado por grandes universidades do mundo. Elas abrem seus conteúdos, mas cobram pela certificação. Talvez seja este o caminho...

9. Diante de tudo isso, confesso:
   Minha demora em lançar cursos online não é por falta de conteúdo ou capacidade, mas por razões éticas e pela busca de uma estratégia coerente com minha vocação.

Compartilho esta reflexão porque muitos alunos me perguntam por que ainda não ofereço cursos online.

Pastor Manoel Gonçalves Delgado Júnior