LEITURA - DEUS NA ERA SECULAR. TIMOTHY KELLER

KELLER, Timothy, Deus na era secular: Como os céticos podem encontrar sentido no Cristianismo. São Paulo, SP: Vida Nova. 2018 (págs. 320)
Apresentação do autor e da obra. Timothy Keller, nasceu e cresceu na Pensilvânia, com formação acadêmica na Bucknell University, no Gordon-Conwell Theological Seminary e no Westminster Theological Seminary. É fundador e pastor-titular da igreja Redeemer Presbyterian Church, em Nova York. É autor de inúmeros livros e artigos. 1  

Nesta obra, temos o desenvolvimento da visão de Keller sobre a coerência intelectual da crença em Deus e da fé cristã. A obra foi escrita tendo em vista o fato de que vivemos em mundo secularizado que valoriza a razão empírica, a evolução do progresso humano e o direito de todos escolherem sua própria expressão de significado, propósito e alegria. De acordo com Keller, “a ideia de Deus ou de um poder superior não faz mais nenhum sentido. Para muitos, a fé e a religião já não podem oferecer nada de valor.” A obra foi escrita para demonstrar que o cristianismo, possui em seu pensamento todos os elementos necessários para que as pessoas encontrem satisfação, sentido, liberdade, identidade, justiça e esperança.”

Perspectiva teórica da obra. Nesta obra, encontramos ideias valiosas que representam boa parte da reflexão intelectual e acadêmica do cristianismo, trata-se de uma verdadeira apologética cristã. É perceptível a influência de autores diversos como C.S. Lewis, Leon Tolstoi, J.R.R. Tolkien, Charles Taylor, Michael Polanyi, N.T.Wright, Jhon Lennox, Alvin Plantinga entre outros, e a apresentação dos argumentos clássicos da existência de Deus e da apologética evidencialista, bem como do pressupocionalismo, que fundamenta a argumentação de Keller, pois segundo o autor, a obra consiste na comparação entre as crenças e alegações do cristianismo com as crenças e alegações da visão secular, onde se questiona qual delas explica melhor esse mundo complexo e a experiência humana. Keller é eclético em sua argumentação, incorporando pensamentos de autores e perspectivas diversas se valendo da erudição cristã para empreender uma crítica ao secularismo, apresentando o cristianismo, como a alternativa mais coerente e consistente com a realidade.

Breve síntese da obra. O autor divide a obra em cinco partes sendo, um prefácio e epílogo, e três seções temáticas, onde o autor discute respectivamente a necessidade da religião, (p.21-82), a abrangência da religião (p.83-270), o sentido do cristianismo (p.271-306). Na primeira seção com dois capítulos, o autor procura demonstrar a contemporaneidade do fenômeno religioso e o fato de que a crença religiosa se fundamenta também em evidências, e de que o secularismo diferente de sua auto-percepção não se fundamenta apenas na razão, mas em crenças apriorísticas. Na segunda e maior seção, que abrangem os capítulos três a dez da obra, o autor procura demonstrar por que a religião é muito maior e necessária do que a secularista costuma admitir. A religião para Keller, proporciona as pessoas, sentido, contentamento, liberdade, identidade, esperança, moralidade e justiça. O comparativo de Keller apresentado nesta grande seção representa grande parte de sua argumentação obra. Na terceira seção Keller procura demonstrar a razoabilidade da crença em Deus, apresentando sumariamente seis dos principais argumentos, ou evidências da existência de Deus. A saber, o argumento que ele denomina de maravilha cósmica e da existência, o da sintonia fina e do design do universo, do realismo moral, o argumento da consciência humana, o argumento da razão e da beleza. Todos estes argumentos mostram a razoabilidade da crença em Deus. No capítulo doze, o autor defende a singularidade do cristianismo, e defende a historicidade de Jesus, a realidade do seu nascimento, morte e ressurreição. Ecoando os argumentos sobre a ressurreição de Jesus, defendidos por Wofhart Pannenberg, N. T. Wright entre outros. Ele termina sua exposição no epilogo quando ele apresenta a comovente história de Langdon Gilkey um secularista que quando esteve num campo de concentração, na China, tendo que viver em situação precária e intenso convívio humano, viu lentamente desmoronar toda a sua crença no ideário secularista. Keller cita o testemunho de Gilkey após toda esta experiência vivida em Chandong: [Os seres humanos] necessitam de Deus porque sua vida precária e incerta só consegue encontrar sentido último nos propósitos todo-poderosos e eternos dele, e porque seu eu fragmentário deve encontrar um centro definitivo apenas no amor transcendente de Deus. Se o sentido da vida dos homens estiver centrado exclusivamente em suas realizações pessoais, estas também são vulneráveis demais às voltas e reviravoltas da História, e a vida das pessoas sempre oscilará à beira do abismo da inutilidade e da inércia. E se a lealdade máxima dos homens estiver centrada neles mesmos, então o efeito de suas vidas sobre outras que os rodeiam será destrutivo para essa comunidade de que todos dependemos. Só em Deus existe lealdade definitiva, que não produz injustiça e crueldade, e um sentido do qual nada no céu ou na Terra pode nos separar.” (p.313).

Principais teses desenvolvidas na obra. A religião diferente das previsões secularistas não desapareceu do cenário da história e da vida humana, e a mesma ainda é fundamental para a compreensão do mundo em que vivemos; O secularismo é fundamentado em crenças, axiomas não comprovados, a fé cristã e a existência de Deus possuem evidências que se podem avaliar. O cristianismo visto como sistema de crenças e valores, cosmovisão, se adequa melhor ao mundo, e a experiência do que as perspectivas rivais, em especial o secularismo, que é essencialmente reducionista e incapaz de dar o fundamento para a liberdade, moralidade, justiça e esperança. Os direitos humanos e importantes instituições que constituem a cultura ocidental tem sua origem no cristianismo, são capital emprestado. Cristo é singular e a sua morte e ressurreição podem ser defendidos a partir de evidências históricas verificáveis. O seu caráter, liberdade e ensino e permanente influencia são evidências da revelação de Deus entre os homens, por meio de Cristo. O secularismo é uma crença frágil, na bondade e potencial humano e o mesmo não resiste ao confronto com a realidade, quando esta está destituída de seu verniz cultural, o secularismo se revela como ineficaz para refrear a natureza humana de seus ímpetos mais destrutivos.

Reflexão crítica sobre obra e implicações para o ministério. Keller tem uma experiência ministerial em Manhatam, num contexto urbano e secularizado. Mais do que reflexões teóricas o autor nos apresenta, boa parte de sua prática ministerial como intelectual público relevante, capaz de travar diálogos desta natureza com pessoas da mais elevada cultura e conhecimento. É importante, que os ministros sejam capazes compreender os contextos onde estão inseridos e de travar diálogos produtivos com a cultura circundante, apresentando a teologia cristã como um discurso coerente e consistente com o saber e as questões existenciais e sociais do povo à qual ministram. Ressalta-se que os mesmos devem fazer este discurso público, sem perder o caráter confessional e antitético que define a genuína proclamação do evangelho.

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