LEITURA - PERDÃO TOTAL NA IGREJA. MAURÍCIO ZÁGARI
ZÁGARI,
Maurício, Perdão total na Igreja. São Paulo, SP: Mundo Cristão
2019. (págs. 234)
Sobre
o autor.
O autor é jornalista, editor, escritor e teólogo. Possui mais de 10
obras publicadas, havendo recebido o prêmio Areté nas categorias
“Autor revelação do Ano”, “Melhor livro de ficção”,
“Melhor livro de Meditação, Oração, e Comunhão”.
Perspectiva
teórica.
Na construção do texto, no seu referencial teórico, observa-se a
influência dos clássicos da espiritualidade cristã, bem como de
obras específicas. Na metodologia nota-se a influência do método
jornalístico, o que pode ser evidenciado pela opção por dar voz
aos depoimentos de diferentes pessoas que viveram, ou refletiram
sobre situações de sofrimento na Igreja. Também o uso da análise
qualitativa, para avaliar estes relatos (vide pág.31).
Breve
síntese da obra.
A obra está dividida em três sessões principais. Na primeira
denominada de “Machucados”(págs. 29-78). Zágari, aborda dez
razões mais recorrentes pelas quais as pessoas são machucadas nas
igrejas (autoritarismo, arrogância, favorecimento, amor ao dinheiro,
traição da confiança, mau exemplo, questões doutrinárias,
pressões indevidas, indiferença, rejeição.). Estas razões são
desenvolvidas nos cinco capítulos desta seção.
Na
segunda seção, sob o título “Verdades” (págs. 79-150), o
autor desenvolve uma exposição de caráter bíblico-teológico
sobre a realidade do pecado e da condição humana, (antropologia
bíblica) e a natureza, sentido e propósito da igreja,
(eclesiologia). Assim se fizermos uma atenta leitura das escrituras
vamos perceber que o pecado é uma realidade presente na vida humana,
e que mesmo só será efetivamente erradicado na consumação final.
Além disto, vamos constatar que muitos dos problemas elencados nos
depoimentos dos feridos e machucados nas igrejas de hoje tem
paralelos bíblicos, associados ao contexto da igreja primitiva, e na
história da igreja, para o autor este problema sempre existiu. Os
cristãos devem deixar a ira e amargura dando lugar a bondade e a
compaixão, e os feridos não devem abraçar praticas e soluções
ineficazes, como abandono da igreja local.
E
por fim, na terceira e última parte denominada “Curados” (págs.
151-223) o autor faz uma aplicação pastoral do princípio bíblico
do perdão, como fator de cura e restauração no contexto da Igreja.
Também ele procura dar voz ao testemunho de pessoas que aplicaram
este princípio bíblico do perdão encontrando cura e restauração
para os seus relacionamentos. Além desta obra, Zágari tem outros
títulos que abordam o princípio bíblico do perdão.1
Reflexão
crítica e implicações para o ministério. A
primeira contribuição desta obra para o ministério pastoral reside
na própria qualidade estética e literária da mesma. Ao terminarmos
esta a leitura, somos levados a reflexão sobre a importância de
escrevermos, e escrevermos bem. Escrever consiste no ato de fazermos
escolhas, pois para produzirmos textos inspiradores, precisamos
determinar os alvos pretendidos. Para quem estamos escrevendo? Qual o
alcance pretendido com esta produção? Como conciliar a verdade e a
linguagem? Como equilibrar a beleza e a precisão conceitual? Ao
lermos esta obra, percebemos que o autor optou por falar ao maior
número de pessoas, com a maior clareza possível, visando a
comunicação do tema pretendido com toda a sensibilidade necessária.
Outro
ponto que gostaria de destacar é sobre a relevância do tema. Apesar
de seu crescimento constante, no cenário evangélico brasileiro, um
grupo tem sido desconsiderado. Os feridos e machucados que saem pelas
portas dos fundos das igrejas locais todos os anos. Esta obra tem o
mérito de considerar seriamente esta realidade, a partir de uma
consideração bíblico teológica que procura de um lado, fazer uma
análise crítica sobre a prática ministerial e a experiência
comunitária desenvolvida pelas igrejas evangélicas, e ao mesmo
tempo, procura demonstrar que muitas destas pessoas feridas e
machucadas, frustraram-se por possuírem uma visão distorcida e
equivocada sobre a Igreja, sobre si mesmas e sobre a realidade do
evangelho. O perdão total seria a alternativa bíblica para esta
realidade. A solução segundo o autor, não está em deixarmos a
igreja local, mas sim em sermos cada vez mais Igreja, tal como Cristo
a estabeleceu.
Creio
que uma implicação necessária ao lermos esta obra é que devemos
desenvolver uma teologia bíblica do perdão e da reconciliação em
nossas igrejas locais, bem como também, uma eclesiologia que
demonstre a pecaminosidade humana, a redenção por meio de Cristo e
o necessário processo de santificação e crescimento de todo aquele
que genuinamente nasceu de novo.
Considero
ainda que a leitura desta obra, auxilia na percepção da necessidade
do desenvolvimento de ministérios específicos voltados para os
resgate dos feridos e abandonado ao longo do caminho. Em minha
experiência pastoral, grupos pequenos acolhedores, processos
informais de mentoria desenvolvidos a partir dos relacionamentos, e o
próprio realinhamento do ministério local com uma abordagem mais
sensível aos de fora, e evangélica em sua abordagem, podem ser
portas de retorno, para que os feridos e machucados retornem a
comunhão do corpo de Cristo.
1 O
autor escreveu também Perdão total (2014), e Perdão total no
casamento (2017) ambos pela editora Mundo Cristão.
Comentários
Postar um comentário