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LEITURA - NOVA LIDERANÇA: PARADIGMAS DE LIDERANÇA EM TEMPOS DE CRISE.

RESENHA. STUERNAGEL, Valdir. & BARBOSA, Ricardo (eds.), Nova liderança: Paradigmas de liderança em tempos de crise. Curitiba, Ed. Esperança. 2017, 190p.

Apresentação do/a autor/a da obra. Esta é uma obra escrita a muitas mãos, mas destacamos aqui os editores deste projeto. Ricardo Barbosa estudou no Regent College em Vancouver (Canadá) e atuou na Fraternidade Teológica Latino-Americana. É pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto (há mais de 30 anos), coordenador do Centro Cristão de Estudos em Brasília, autor de vários livros como “Janelas para a Vida” . “O Caminho do Coração”, entre outros e colunista da Revista Ultimato1 & Valdir Stuernagel pastor luterano com mestrado e PhD da Lutheran School of Theology em Chicago, USA. Ele exerceu ministério junto a Aliança Bíblica Universitária, a Fraternidade Teológica Latino Americana e a Visão Mundial Internacional. Valdir foi co-fundador do Centro de Pastoral e Missão, vinculado ao Movimento Encontrão e, no presente, exerce o pastorado junto a Comunidade do Redentor em Curitiba, PR. Ele é um Assessor Sênior do Movimento de Lausanne e embaixador da Aliança Cristã Evangélica Brasileira. Valdir publicou livros e artigos na área da missão integral e da missão da igreja  em português, espanhol e inglês.2 Esta obra é uma coletânea de artigos de diversos autores dedicados a formação ministerial, que visa apresentar uma agenda para discussão sobre a liderança ministerial tendo em vista os desafios do século XXI.

Perspectiva teórica da obra. A proposta do livro, segundo os organizadores, é a de apresentar uma agenda para a discussão, reflexão e discernimento do que Deus requer da liderança em nosso tempo. Nesta perspectiva rejeitam-se os modelos seculares de liderança e busca-se afirmar o modelo bíblico, em especial o modelo de Jesus Cristo. Com esta diretriz, os artigos foram redigidos e selecionados para comporem a presente obra, todos com valiosas contribuições para o tema pretendido, que é o resgate do modelo cristão de liderança. Poderíamos falar de uma sinfonia onde muitos instrumentos diferentes procuram destacar o tema comum, cada um na sua tonalidade. Os autores são evangélicos, e em sua maioria pertencem ao contexto da igreja e da missão no Brasil. Acrescenta-se a obra o excelente artigo do Dr. James Houston, sobre a liderança cristã e a tendência narcisista3. A perspectiva teológica da obra é evangelica e missional.

Breve síntese da obra e principais teses desenvolvidas na obra. A obra está organizada com uma introdução escrita pelos organizadores e nove capítulos. Ao final existe uma breve biografia dos autores. Introdução. Na introdução são delineados os grandes contornos do projeto, e o próposito da obra, que como já mencionado, é o fomento de uma agenda para a discussão sobre o ministério. Os desafios são grandes para a liderança em nosso tempo, secularismo, hedonismo idolátrico, visão mercadológica. A igreja vive hoje um dilema semelhante ao do povo de Deus no passado. Esta crise do ministério pastoral tem afetado a identidade dos líderes cristãos. “Se em um passado não tão distante, ser pastor era mais claramente definido, hoje a identidade pastoral é confusa e quase sempre traz consigo sentimentos de culpa e inadequação.”(p.08), dizem os editores. “Pastores vem construindo uma identidade cada vez mais funcional. A comunidade não é o que mais importa, o que importa são os projetos, metas, o potencial de cada um. A profundidade foi subtituída pela superficialidade, a pessoalidade se perde no meio da grande massa. Às vezes parece que somos mais vaqueiros do que pastores: estamos mais de olho no número de cabeças do que no cuidado do rebanho.”(p.11). Com este diagnóstico procura-se desenvolver um modelo alternativo de liderança baseado no exemplo e ministério de Jesus, que seria uma liderança do serviço em contraposição a uma liderança do poder, do privilégio do controle e da exploração. (01)A liderança e o modelo de Jesus4. Neste capítulo Stuernagel afirma que o conceito de liderança é simples e ao mesmo tempo complexo. Simples porque se refere a influência de modo geral, complexo porque o exerício desta envolve uma série de circusntâncias, disposições e habilidades exigidas. A verdadeira liderança cristã precisa apresentar a marca do serviço, bem como de um genúino senso de chamado, e seguimento de Jesus. Estes, discípulos, são chamados e enviados por Cristo, se deixam amar e conhecer. “O líder cristão é aquele que se especializa em lavar os pés dos outros e o faz em meio às circunstâncias mais difíceis e como anuncio de uma nova possibilidade de vida: a vida com Jesus.”(p.27). Além disto, a liderança que tem Jesus como modelo é aquela caracterizada por profetismo e sofrimento e centralizada no Reino de Deus. Esta liderança não é apenas de envio, mas também de oração e retorno, ou seja, uma liderança avaliada na perspectiva da trajetória e da prestação de contas. Os discípulos de Jesus tem este perfil e servem como exemplos para aqueles que hoje compartilham do mesmo chamado. (02) A formação de um líder é uma questão de vida5. Capítulo escrito por Ricardo Agreste, conhecido líder e pastor da Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera, fundador do CTPI (Centro de Treinamento de Plantadores de Igreja), neste capítulo, apresenta o conceito de períodos de formação para a liderança de Robert Clinton, adaptando e aplicando ao contexto da formação de liderança no Brasil, assim para Agreste existem quatro etapas no processo de formação : “Pensando um pouco mais sobre a tese (Clinton), passei a considerar a possibilidade de que ao longo da vida, homens e mulheres são conduzidos pela graça através de certos períodos que tenho caracterizado: (I)fundamentos,(II) despertamento, (III)amadurecimento e (IV)convergência.”(p.44-45). A seguir, o autor desenvolve e demonstra este conceito a partir de uma breve análise biografica de Davi, porém, alerta que este processo de formação de liderança não segue o modelo da produção em série antes, pode ser concebido como o trabalho de um sábio e sensível artesão, Deus, trabalho este, que não se esgosta pois, é realizado por toda a vida. Finalizando a sua exposição Agreste conclama os líderes para que exerçam sua vocação com sensibilidade, confiança e submissão. (03) Peneirando líderes, formando pastores6. Nesta capítulo Barbosa, com magistral desenvoltura apresenta a necessidade dos líderes serem pastores de verdade, com piedade, e real preocupação com rebanho que lhes foi confiado, o autor também faz uma contundente crítica a profissionalização do ministério, e ao mero gerenciamento eclesiástico, um capítulo para se ler de joelhos. (04) Diaconia da liderança7. Do pastor Carlos Queiroz, que neste capítulo a partir da análise da obra de James Hunter, O Monge e o Executivo, o faz uma inversão sensacional, no conceito de Hunter ao afirmar que além de ser de grande importância que o líder seja um servo (tese de Hunter), é fundamental também que aqueles que são servos, assumam cada vez mais, posições de liderança, para o bem dos seus liderados. (05) Seguir o modelo de Jesus na liderança transcultural8. A missionária e professora do (CEM) Antonia Leonora Van Deer Meer, “Tunica” para os conhecidos, que procura desenvolver o tema do livro aplicando aos líderes transculturais. A crise que tem afetado as igrejas possui um paralelo no contexto misionário, para a autora “ não faltam problemas na missão”, assim os missionários precisam, rejeitar modelos arrogantes, etnocentricos de inserção, e encontrarem em Jesus o modelo de missionário. (06) A liderança cristã e a tendência narcisista9. Artigo do Dr. James Houston, texto traduzido por Márcia Fortuna Biato, disponibilizado nesta obra, e que considero de grande relevância, para o nosso contexto, pois somos propensos ao culto a personalidade, e tivemos grandes traumas no contexto evangélico com lideranças com este perfil. A liderança narcisista não se sustenta sem co-depêndencia de um séquito de seguidores que retroalimentam este modelo indefinidamente. Embora o narcisismo seja um aspecto da natureza pecaminosa do ser humano, por meio da aliança que restaura auto-imagem do ser humano e seu relacionamento com Deus é possível a superação deste mal. Deve-se buscar uma reorientação para uma liderança cristã. (07) Dores e sofrimentos de homens e mulheres de Deus10. De autoria de Marisa Drews, Psicóloga, pedagoga que atua no ramo da psicologia clínica, sendo também coaching e mentorship. Deste capítulo, destaco uma contundente afirmação da autora que toca num ponto sensível, para aqueles que estão envolvidos no ministério pastoral: “Cada vez mais vemos pastores e líderes dedicados quase exclusivamente ao público, orientando e dirigindo grandes massas, mas não conseguindo orientar suas próprias vidas e famílias, que acabam despedaçadas, e muitas vezes responsabilizam a igreja, ou os membros por suas angústias e dores. Muitos precisam culpar a igreja, a sociedade, seus pais, ou até mesmo, Deus por seus problemas e dificuldades como forma de fugir de sua própria responsabilidade. Sabemos que instituições religiosas e missionárias, grupos religiosos e igrejas podem ser extremamente cruéis e causar sérios danos bio-sócio-psico-espirituais. Mas queremos ressaltar aqui a corresponsabilidade de cada um nesses danos. Não é nossa pretensão eleger um inimigo externo contra o qual lutarmos, afinal, há os que culpam o espelho pelo que nele veêm.” (p.149). Um verdeiro convite a instrospeção e sondagem interior. (08) A busca por um estilo de liderança. Avaliando a própria trajetória11. Neste capítulo da lavra de Lyndon de Araújo Santos, historiador e ministro religioso, o modelo de liderança é derivado das experîencias, reflexões e conhecimentos acumuladas ao longo de sua própria experiência ministerial, de mais de 35 anos de vocação ministerial. Com base nestas experiências adquiridas, e análise de sua trajetória Santos elenca seis caminhos para o que ele denominou um estilo de liderança bíblico e contemporâneo: “O trabalho em equipe e a reúncia do personalismo, o reconhecimento da diversidade de dons sem o pragmatismo utilitarista, o respeito e a tolerância com as diferenças unidos ao compromisso com a unidade, o diálogo e o envolvimento com as questões sociais, a postura crítica diante do modelo empresarial vigente e, por fim, a releitura do papel que a estrutura denominacional deve ter no exercício da totalidade do ministério da igreja.” (p.170). (09) E a família do líder, como fica? Uma co-autoria do conhecido casal de psicólogos Carlos “Catito”Grzybowski e Dagmar Fuchs Grzybowski, articulistas da revista Ultimato, e autores de obras na área de psicologia e terapia familiar sistêmica (TFS), dentre as quais destaco a excelente obra “De bençãos e traições”12 onde Carlos Grizybowski é um dos co-autores. Neste capítulo a partir de uma abordagem denominada pelos autores de psico-teológica, busca-se estabelecer nos princípios bíblicos de liderança, a diretriz de governar bem a própria casa. A partir desta análise inicial procura-se desenvolver os vários sentidos possíveis de observância deste preceito. A educação dos filhos não pode ser terceirizada, os pais precisam transmitir valores pelo relacionamento, é necessário que o sentido de hierarquia geracional esteja presente, além de suprirem as necessidades materiais, deve-se também dar atenção as necessidades emocionais dos filhos, e o relacionamento conjugal deve ser considerado o aspecto mais importante desta ordenança bíblica, não podemos inverter prioridades. “Líderes precisam estar conscientes de que os cônjuges devem ser a prioridade na sua vida, e não o trabalho, seja este ´secular´ ou `eclesial` ” (p.181).

Reflexão crítica sobre obra e implicações para o ministério. A obra é excelente, e os autores possuem ampla experiência ministerial e autoridade acadêmica, o conteúdo bem desenvolvido, profundo e necessário, existindo apenas alguns, pontos a serem observados que destaco a seguir: A apurada crítica ao modelo de mercado, não vem simetricamente acompanhada de críticas a outros modelos de liderança (seculares e religiosos) igualmente nocivos a experiência evangélica. Outro ponto, é que notamos uma ausência de novas gerações entre os autores contribuintes para o presente trabalho. É uma tendência geral que uma geração dialogue apenas com a sua própria geração, porém, o ideal seria que as gerações dialogassem possibilitando intercambio de ideias e percepções, penso que se a obra tivesse a representatividade de autores mais jovens poderia vir a ser enriquecida com um necessário diálogo, em que as experiências amadurecidas de um lado, e o ímpeto das percepções das novas gerações, de outro pudessem enriquecer-se mutuamente. Creio que tal diálogo ocorrerá através da leitura pessoal do ministro cristão, além de sua utilização em seminários, institutos bíblicos, econtros de lideres entre outros, mas penso que no próprio conjunto da obra, já poderia existir algo neste sentido, também destacaria que a padronização da obra a deixou com características mais próximas a uma revista teológica, algo que poderia ser corrigido em futuras edições, e que em nada afetam o excelente conteúdo e proposta deste rico material. Fora estes pontos, considero a obra relevante e recomendo sua leitura e utilização para o contexto de formação ministerial.

1http://www.servodecristo.org.br/professor/ricardo-barbosa acessado 05/01/2020

3p.131-144 - Artigo que tivemos oportunidade ler e estudar já durante o módulo, do D.min.

4p.13-39

5p.40-57

6p.58-88

7p.89-113

8p.114-129

9p.131-144

10p.145-160

11p.161-170

12FRIESEN, Albert; GRZYBOWSKI, Carlos “Catito”; OLIVEIRA,Roseli M. Kuhnrich de, De bençãos e traições. A história das famílias de Abrão, Isaque e Jacó. 2006, Editora Evagélica Esperança, Curitiba-P e Ultimato, Viçosa MG. 


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