ARTIGO - A REFORMA SUÍÇA.

 500 anos da tradição reformada: Uma data pouco conhecida, e celebrada. 

     Em 29 de Janeiro de 1523, o reformador Úlrico Zuínglio defendeu seus 67 artigos, marcando o início da Reforma Suíça. Hoje, a tradição reformada é uma influente corrente teológica do protestantismo, com impactos significativos na cultura ocidental, e nas instituições modernas. Esta matéria busca apresentar a trajetória de Zuínglio e sua contribuição para esta tradição. 

Zuínglio nasceu em 1484 em Wildhaus, Suíça, em uma família de classe média abastada. Educado em Viena e Basileia, ele estudou artes liberais e teologia, sendo ordenado sacerdote em 1506. Sua exposição ao humanismo renascentista e às escrituras influenciou profundamente suas crenças teológicas. Ao se tornar sacerdote em Zurique em 1519, Zuínglio começou a pregar o evangelho e a propor reformas baseadas na Bíblia. 

Seu desafio à autoridade da Igreja Católica, particularmente em relação ao celibato clerical, à intercessão dos santos, e a proclamação do evangelho era fundamentado nas Escrituras. Em 1522, ao quebrar o voto de celibato e casar-se secretamente, Zuínglio demonstrou seu compromisso com a Reforma. 

A tensão entre cantões suíços católicos e protestantes levou a conflitos armados, incluindo a Guerra de Kappel. Zuínglio foi um líder estratégico, promovendo alianças e defendendo as reformas em Zurique. Sua morte em batalha em 1531 foi um golpe para a Reforma Suíça, mas suas ideias continuaram a influenciar o protestantismo europeu. 

Os 67 Artigos de Zuínglio, diferentemente das 95 Teses de Lutero, abordavam uma ampla gama de doutrinas e práticas. Estes artigos enfatizavam a autoridade das Escrituras e rejeitavam a tradição eclesiástica, moldando a teologia protestante posterior. De acordo com o historiador da Igreja Rev. Alderi de Sousa Matos, o contexto deste documento, foi a Primeira Disputa de Zurique, que ocorreu em 29 de janeiro de 1523, foi um evento chave, organizado pelo conselho municipal com o objetivo de abordar e possivelmente resolver as tensões religiosas emergentes na cidade. Durante este encontro, as ideias apresentadas por Zuínglio receberam aprovação do conselho. Como consequência, foi estabelecido que os ministros do cantão deveriam basear seus sermões nas escrituras. Esse foi o marco inicial da Reforma Suíça. Nestes artigos Zuínglio abordou questões sobre a excomunhão, propriedade ilegal, a estrutura e o poder do magistério, a natureza da oração, a ofensa e escândalo entre cristãos, a remissão de pecados, a rejeição do purgatório, o sacerdócio conforme as Escrituras, e a censura ao abuso eclesiástico. Ele concluiu seus artigos com um chamado para que os clérigos elevassem a cruz de Cristo acima das riquezas mundanas e estivessem prontos para discutir questões como juros, dízimos e sacramentos, sempre retornando às Escrituras como juiz supremo. 

A tradição reformada, iniciada por Zuínglio e sistematizada por Calvino, é marcada por um compromisso com a autoridade das Escrituras e a ênfase na soberania de Deus na salvação. Segundo essa visão, os cristãos devem exercer sua vocação em todas as esferas da vida. 

Esta corrente do protestantismo influenciou profundamente a cultura ocidental, promovendo valores como democracia, e a liberdade individual e o trabalho ético. O reconhecimento dos 500 anos dessa tradição ressalta a persistente influência desses princípios.  A Reforma iniciada por Zuínglio e outros reformadores suíços, como Heinrich Bullinger, Guilherme Farel e João Calvino, formou uma base teológica e cultural que influenciou não apenas a Suíça, mas também outras partes do mundo.   

A tradição reformada é marcada por um compromisso com a autoridade das Escrituras, a pregação do evangelho, a organização eclesiástica democrática e a ênfase na soberania de Deus na salvação. A celebração dos 500 anos dessa tradição é um reconhecimento da persistente influência desses princípios reformados. 

Zuínglio, uma figura central na Reforma, antecipou que uma reforma radical era necessária. Deve-se ao Reformador de Zurique a percepção antecipada, a intuição teológica de que uma restauração a partir de Roma não seria possível, e que uma reforma radical no sentido de “radix”, retorno as raízes, seria inevitável. Esta leitura comprovou-se correta e todos os grupos da Reforma, mais cedo ou tarde se alinharam a sua percepção. Sua maior contribuição foi o princípio regulador das escrituras, aplicado não apenas ao culto, mas a todas as expressões de fé e prática da Igreja, um verdadeiro representante do Sola Scriptura. Igualmente podemos destacar o seu dedicado trabalho de exposição bíblica, a partir dos originais das escrituras, e a seu senso de civismo que o levou a ser capelão militar, e morrer como um herói da causa reformada.  

Ao estudar-se a Reforma Suíça, é vital que se considere o contexto histórico de Zuínglio. Sua morte prematura em 1531 impediu o pleno desenvolvimento de seu pensamento teológico, mas suas contribuições, ainda que iniciais, foram fundamentais para que o movimento reformado viesse a florescer. 

Sobre o Autor: Rev. Manoel Gonçalves Delgado Jr. é Pastor Presbiteriano, Doutorando em ministério pastoral pelo Seminário Servo de Cristo, SP, e diretor do IBAA. Casado com Alzenir e pai de Anna Heler Delgado. 

Este artigo foi publicado para o Jornal: Brasil Presbiteriano em janeiro de 2024, com o título: Reforma Suíça.  



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